"Setembro, tradicionalmente, inicia-se com os “blues” (uma emocionalidade mais “cinzenta”) de quem termina as férias e se prepara para a “nova época desportiva” – em boa verdade, não são só os clubes que se organizam em “épocas”, também assim se gere o funcionamento dos agregados familiares do nosso país, quando se avizinha um novo ano lectivo.
A esta emocionalidade “cinzenta” de final de férias e verão, junta-se também a sensação de “esvaziamento do ninho” à medida que milhares de jovens se preparam para sair de casa, naquela que é uma (clara) ilusão de entrada na vida adulta.
Assiste-se a uma verdadeira migração interna, chegando às grandes cidades largos milhares de novos estudantes, provenientes de realidades bem distintas da vida nas grandes cidades.
Só em Lisboa, prevê-se a chegada de mais de 40.000 jovens.
Quarenta mil.
Quarenta mil projectos de inicio de “grande aventura” (e uma enorme sensação de deslumbramento interno).. e quarenta mil agregados familiares que irão ter que se adaptar à alteração do sistema familiar, às saudades e à ansiedade que advém de uma clara percepção de perda de controlo sobre as escolhas dos seus educandos (com uma acrescida – as vezes, amplificada – percepção de risco associada a esta “nova vida”).
Nesta fase do ano também, saltam para as parangonas dos jornais o “top” dos alunos que entraram na Universidade - de repente, parece que temos uma nova série de “popstars” que entram na sociedade portuguesa.. os “Vintes de Portugal”.
E, nesta fase, percebemos novamente... que nada percebemos.
Quando a Competência Cognitiva Não Prediz Sucesso
Muito são os anos que já passaram desde os primeiros estudos que procuraram predizer o Sucesso.
Desde sempre, a disciplina científica da Psicologia dirigiu estudos de longa duração (alguns deles com os alunos melhor classificados na famosíssima Universidade de Harvard), onde a vida dos recém-licenciados foi acompanhada durante um longo período de vida (cerca de 10 anos), no sentido de serem apurados os denominadores comuns do Sucesso.
Estes estudos começaram, desde logo, a levantar algumas inquietações, no que respeita aos resultados encontrados:
De facto, as competências cognitivas não apareciam associadas ao sucesso de forma directa, apenas quando, em paralelo, os sujeitos evidenciavam outro tipo de competências que, hoje em dia, designamos por Soft Skills.
A importância da nossa capacidade em gerir as nossas emoções e ativar um sem número de outras competências de vida, para quem anda no terreno há mais de vinte anos é, desde sempre muito óbvia e, em boa verdade, tal como já defendi em artigo anterior, a sua designação, por estas mesmas razões deveria ser rapidamente mudada para Critical Skills.
Critical Skills e Performance Académica
Inúmeros são os casos de miúdos que, tendo um percurso extraordinariamente bem sucedido, por razões várias (que agora não cabe aprofundar), acabam por, de uma forma igualmente extraordinária, e contra as expectativas de todos (do próprio e de quem os rodeia), fracassar redondamente nos primeiros anos de faculdade, entrando muitas vezes num penoso arrastamento (às vezes, de anos por incapacidade em pedir ajuda) que termina, invariavelmente, nos consultórios da psicologia.
Em boa verdade, perfeitamente expectável para quem tem um olhar mais atento sobre a necessidade imperiosa, que permanece sem resposta, de introduzir disciplinas que Treinem este tipo de Competências de Vida nos curriculum’s do ensino secundário ou dos primeiros anos de faculdade.
O deslumbramento de uma nova etapa de vida, a fantasia da autonomia, as (cada vez maiores) dificuldades em estabelecer relações interpessoais de qualidade (ao “vivo e a cores” – não através de um qualquer ecrã), a (in)capacidade de adaptação a uma nova cidade e a um novo estilo de vida, as expectativas (muitas vezes) irreais de manter os níveis de performance prévios desde o primeiro momento avaliativo, a dificuldade em pedir ajuda por não querer “preocupar”, a (in)capacidade de organização e planeamento num novo sistema educativo onde, pela primeira vez, é preciso ativar a competência da “escolha”, a (in)capacidade de dizer “não”...
Tantas, tantas variáveis (factores de stress – por vezes, “mascarados” ou vividos como desafio) que, sem preparação alguma, transformam esta nova etapa de vida numa espécie de jogo de lotaria onde, uns terão “sorte”... e muitos “azar”.
Transfer Desporto-Academia
Creio que, uma vez mais, o Desporto mostra o caminho.
Há já alguns anos que o discurso no desporto de alta competição mudou o seu foco do “Atleta” para a “Pessoa”.
É dizer:
Optimizamos Pessoas que, por acaso, uma das suas áreas de expressão é o Desporto.
Para quando esta mudança na Academia? Para quando a Transformação dos curriculum’s no sentido de os Dirigir para a Pessoa que, por acaso, uma das suas áreas de expressão é a Academia?
Enquanto o ensino de Competências de Vida não for, de facto, valorizado integrando-o na Formação de Base do Cidadão, questões de saúde mental, do “entupimento” de alunos em certos cursos que transformam licenciaturas de 3 em 6 anos e, inclusivamente, de condicionamento das competências psico-emocionais de quem, posteriormente, assumirá o seu papel na sociedade (médicos, gestores, professores, políticos, e tantos outras profissões que impactam directamente em todos nós, dificilmente esta “realidade calada” encontrará solução.
E, uma vez mais, a responsabilidade da sua resolução cairá nas mãos de quem, atempadamente, identifica a lacuna e antecipa aprendizagem – o que, em boa verdade, já muitas famílias fazem.
Fica, assim, por cumprir o papel de quem pode (e deve) contribuir para a implementação de medidas globais - ministério de educação, escolas e professores, entre outros.
Uma vez mais."
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