"O sociólogo francês Jean-Marie Brohm é o fundador de uma “sociologia crítica e radical do desporto”, que rejeita, irremediavelmente, a competição, sinónimo de violência, exploração e alienação, que conforta as relações sociais de produção numa sociedade dividida em classes. Consentir as regras da prova desportiva leva a aceitar as regras de dominação capitalista. A competição e o seu espectáculo levam a que as massas esqueçam os seus próprios interesses, servindo a dominação. O desporto é, assim, o “ópio” do povo, tipo de força narcótica, “clorofórmio” das massas “cretinizadas” pelo seu espectáculo. O autor denuncia, várias vezes, com um tom cáustico, que são “confrontações imbecis entre músculos”, “a dramaturgia digna de um romance”, com funções de “cretinização de massas” e de “encarceramento dos espíritos”.
Outro modelo teórico é o de Alain Ehrenberg e o de Christian Bromberger. Para Ehrenberg, praticar desporto significa ir à conquista da sua identidade. A competição é muito igualitária. Existe confronto, mas com armas iguais. Exaltando o mérito, a competição não é uma porta aberta ao fascismo, como refere Brohm, mas uma metáfora da justiça em democracia. Este modelo é afinado por Bromberger. No fundo, passa-se de um mundo muito negro (o de Brohm) para um modelo cor-de-rosa (o de Ehrenberg e Bromberger). Os dois modelos não oferecem manifestamente a mesma visão do mundo, em geral, e do deporto, em particular. Passa-se de uma sociologia crítica da dominação desportiva a uma sociologia muito volátil, despolitizada e ingénua.
Socialização, inserção ou integração e catalisador de coesão social são algumas das funções do desporto. A Comissão Europeia definia, na década de 90, cinco funções específicas no âmbito do desporto:
1) A função educativa para equilibrar a formação e o desenvolvimento dos indivíduos em todas as idades;
2) A função de saúde pública no quadro do bem-estar geral da pessoa para preservar o “capital-saúde” dos cidadãos;
3) A função social para lutar contra a exclusão, a intolerância, a discriminação e o racismo;
4) A função cultural, permitindo ao cidadão de se reconhecer no seu território;
5) A função lúdica como componente do tempo livre e do lazer individual e colectivo.
A declaração do Conselho da União Europeia, de 05 de maio de 2003, refere que o valor social do desporto, sobretudo para a juventude.
Apesar de algumas derivas (corrupção, dopagem, violência, etc.), convém não atribuir ao desporto mais funções do que ele possui ou que pode assumir. Se a função social do desporto é reivindicada desde a origem dos discursos humanistas “coubertianos”, admite-se que a problemática da prevenção e de inserção social no e pelo desporto surge no início dos anos 80. Desde essa altura, múltiplos programas têm sido aplicados e apelam às práticas desportivas para favorecer a integração, em particular os jovens desfavorecidos ou oriundos de bairros e/ou cidades reputados(as) de “sensíveis” ou “difíceis”. É uma forma de reacção social ao famoso “mal dos bairros”, que é julgado como responsável pelo aumento da violência, de roubos, de tráfico de estupefacientes e de outras degradações dos bens públicos e privados.
Muitos dos programas e projectos desportivos desenvolvidos, quer em Portugal, quer no estrangeiro, adoptam títulos como “inclusão”, “integração”, “inserção”, “socio-desportivos”, “de prevenção”, “de socialização”, “de educação” no e pelo desporto. Esta escolha terminológica sublinha a dificuldade de se nomear o “público-alvo” (os jovens de origem estrangeira, os jovens saídos da imigração, os jovens de bairros sociais, os jovens em dificuldade, os jovens difíceis) e os territórios abrangidos (bairros “problemáticos”, “sensíveis”, de exilados). Na realidade, a escolha terminológica confirma a incapacidade recorrente de se reconhecer o problema identitário desses jovens e de os acompanhar num eventual processo de integração ou de inserção e de se assegurar o desenvolvimento equilibrado do território."
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