"No documentário A Guerra do Vietname, de 2017, soube do transtornante discurso aos fuzileiros americanos que era marca de um major chamado Charlie Beckwith: «Se um homem for estúpido, a mãe dele receberá um telegrama dizendo 'O seu filho morreu porque é estúpido'». Continuava: «Se um homem não for estúpido, a mãe dele receberá um telegrama dizendo 'O seu filho morreu'». Beckwith, então, deixava instalar-se o silêncio antes de juntar, clemente: «Se suportarem o treino, talvez a vossa mãe não receba um telegrama. Prestem atenção». É, então, a cultura militar de limite, na qual se suporta cansaço, dor e medo. No espectro aterrrador da guerra, entende-se. O que acontece, porém, quando se transporta este ambiente para o desporto, sobretudo nos dias de hoje, quando todo o esforço pode ser tecnologicamente vigiado?
Jordan McNair, 19 anos, faleceu de insolação num treino de futebol americano na Universidade de Maryland durante o qual testemunhas, incluindo companheiros de equipa, afirmam tê-lo visto com sinais de exaustão, como dificuldade para respirar e ficar de pé. Os pais da vítima querem o treinador DJ Durkin responsabilizado. Além disso, deploram o que entendem ser uma cultura militar no desporto que tende a forçar miúdos além dos limites e que, aliás, é também tópico de uma investigação actual da ESPN em dezenas de escolas americanas. Conteúdo tóxico.
Os treinadores defendem-se e garantem cargas normais. Anteontem, porém, a universidade suspendeu os técnicos, num caso que continuará. Concluindo, para já: uma coisa é a guerra, outra são treinos vistos no limite da inconsciência. E que ninguém diga - pelo menos isso - aos pais de quem morre assim que morreu porque era estúpido."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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