"Nunca me ajustei convenientemente à ideia de que os treinadores portugueses são melhores do que os outros, tantas vezes sustentada pelos próprios. Certamente que sempre houve treinadores portugueses a chegar à elite internacional - Queiroz, Artur Jorge, Mourinho, Fernando Santos... - e fenómenos de qualidade que se aproximam - Leonardo Jardim, Villas Boas... -, no entanto parece-me desacertado deduzir que daqui alguma vez tenha resultado uma liderança intelectual de classe. Uma coisa será, portanto, aplaudir os treinadores portugueses na fina-flor, outra será crer que são, na essência, mais capacitados. É uma visão ingénua, tal como se diz que «nós, portugueses, recebemos melhor as visitas» ou que «nós, portugueses, é que cozinhamos bons petiscos». Como se os outros não achassem o mesmo deles próprios. É pensar de mais em nós, como são quase todos os pensamentos menores.
Mesmo os treinadores holandeses, note-se, estigmatizados pelos legados dos mestres Rinus Michels e Johan Cruyff - esses, sim, de segura liderança intelectual, criadores de escola, de ideologia - não são hoje donos do que quer que seja. Por estes dias, inclusivamente, parecem todos em crise; Van Gaal, Hiddink ou Dick Advocaat têm falhado projectos. Rijkaard, Seedorf ou Van Basten estão esquecidos; Frank de Boer e Koeman não escaparam à onda de despedimentos da Premier League. Paralelamente, até a selecção holandesa anda prostrada, falhando Euro-2016 e Mundial-2018.
Perpendicularmente, de qualquer forma, a melhor treinadora do Mundo para a FIFA, Sarina Wiegman, e a melhor jogadora, Lieke Martens, são holandesas. Aqui, com Ronaldo, estamos a redefinir a cronologia e a narrativa do futebol. Mas nos treinadores somos iguais aos outros temos bons e maus elementos, temos bons e maus momentos."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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