"Em Portugal, a arbitragem do futebol profissional carece de ser melhorada em alguns aspectos - nomeadamente na magna questão das notas dos árbitros - mas é incomparavelmente melhor do que aquela que vigorou durante os anos tenebrosos do Penafielgate, dos quinhentinhos, do Apito Dourado e do Apito Final. Durante muitos anos - e houve árbitros que não devem ser metidos no mesmo saco! - era perfeitamente razoável desconfiar da natureza dos erros do apito, que, como ficou demonstrado, eram mais do foro da criminalidade organizada do que da incompetência.
Hoje, os tempos são outros e é preciso fazer essa justiça aos árbitros e aos seus dirigentes. O erro, que acontece, é fruto em muitos casos de alguma inexperiência (há árbitros lançados demasiado cedo às feras), noutros das limitações próprias da forma como se arbitra. Mas há um terceiro elemento que deve ser aqui denunciado, porque tem passado impune e prejudica a serenidade que os juízes de campo deveriam ter para dirigir os jogos. Os árbitros, o elo mais fraco de todo o processo, têm sido vítimas de pressões exacerbadas (que chegaram ao cúmulo de ameaças físicas a Artur Soares Dias), servindo muitas vezes de bodes espiatórios de culpas alheias, sem que lhes seja dado o devido respaldo. Pressionar e coagir os árbitros tornou-se uma espécie de desporto nacional, de impunidade garantida. Se queremos uma arbitragem melhor, então defendam-se, em todas as vertentes, os árbitros, dando-lhes condições para um desempenho cabal da sua missão. E isso, por falta de coragem das entidades de supervisão, não tem, de todo acontecido..."
José Manuel Delgado, in a Bola
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