"Ainda falta a quase eternidade de um mês e meio para o maldito defeso terminar. A festa faz-se nos media com novos jogadores que ninguém conhece e de todas as nacionalidades, com excepção de esquimós e aborígenes. No ar esvoaçam cláusulas de rescisão sem nexo e sem aderência à realidade. No dia 31 de Agosto (curiosamente, dia de um Benfica-Sporting) pode haver aeronaves à espera na Portela para dar tempo a abutres esfomeados de levarem a carne e deixarem a carcaça.
Este tipo de defesos é triplamente obsceno: termina depois de as competições começarem, permite trocas depois dos sorteios efectuados, exprime o primado da cleptocracia tornada oficial e suficientemente branqueada por essa Europa do futebol cada vez mais desigual.
A dificuldade em manter os melhores é cada vez maior, mesmo com a UEFA a falar, com cinismo insuportável, de fair-play financeiro. É o tempo em que meia-dúzia de treinadores europeus disputam, entre si, as iguarias financiadas sabe-se lá como, cavando a clivagem com a horda do resto europeu. Quase me apetece dizer que assim até eu treinava...
Pelo meio, há rios e afluentes monetários. Intermediação à farta. Compensações à vista. Fundos de jogadores que os tornam divisíveis como se tratasse de uma peça de talho. Sempre com o pensamento no paradoxo do regresso ao futuro...
Compra-se por 10, estabelece-se a famosa cláusula de rescisão por 10 vezes 1000. Proclama-se urbi et orbi que só se vende pela cláusula de rescisão que, afinal, não é ou quando é tem direito a desconto ou saque.
Definitivamente, a cor do dinheiro tudo envolve e tudo faz engolir. Não acreditem nos beijos nas camisolas."
Bagão Félix, in A Bola
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