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domingo, 10 de agosto de 2025

do Benfica ‘bem encaminhado’ mas ainda curto para o 4x4x2 de Lage


"Para encarar uma época que será, por certo, desgastante e exigente, o plantel do Benfica, estando ‘bem encaminhado’, como se viu em Nice, não está fechado. Para ter a profundidade necessária, ainda lhe falta um médio-ala, um ponta-de-lança e, idealmente, um ‘número oito’...

O Benfica realizou em Nice uma exibição segura e equilibrada, provavelmente das mais conseguidas coletivamente desde que Bruno Lage assumiu o comando da equipa. Tal não foi, porém, obra do acaso, fruto de uma predisposição para jogar bem das principais figuras do conjunto encarnado. A ‘performance’ dos encarnados teve, aliás - embora Ivanovic mereça uma palavra especial – muito mais de coletivo do que individual, e é esse facto que não só a torna especial, como levanta algumas questões de olhos postos no futuro.

BRUNO LAGE
Basicamente, Bruno Lage abandonou (provavelmente porque sentiu que tinha jogadores para tal...) o 4x2x3x1 ou o 4x4x3 que quase sempre adotaram e apostou num 4x4x2 clássico, interpretado de forma moderna, ou seja, não deixando o adversário jogar à vontade através de pressão alta, e mantendo a posse de bola de forma a mandar nos tempos e no ritmo do jogo.
Para início de conversa, diga-se que jogar como o Benfica fez na Côte d’Azur, só foi possível porque todos os jogadores, sem exceção, trabalharam defensivamente, sem necessidade de proceder a arranjos para compensar desequilíbrios provocados pela opção de ter em campo um virtuoso já sem capacidade para colaborar sistematicamente na recuperação da bola (leia-se, neste caso, o mágico Angel Di María).

O QUE NICE MOSTROU
Assim, com Pavlidis e Ivanovic a interpretarem muito bem a primeira luta à saída de bola do Nice, missão em que eram imediatamente secundados por uma linha média muito ‘operária’ - Aursnes, Berrenechea, Richard Ríos e Dahl -, que obrigava a que o quarteto defensivo, que beneficia da liderança de Otamendi e da profundidade dada por António Silva, subisse no terreno, mantendo assim, como dizia Sven-Goran Eriksson, «a equipa junta.»
Mas antes de irmos ao papel dos dois avançados, detenhamo-nos primeiro nas alas, e depois no duplo-pivot.

DIREITA/ESQUERDA
É bom que se diga que, do ponto de vista da dinâmica, os movimentos do lado direito do Benfica são muito diferentes do que se passa no lado esquerdo. À direita, onde a vocação atacante de Dedic faz lembrar, pelos desequilíbrios que provoca no adversário, a função desempenhada por Álvaro Carreras, as movimentações do bósnio foram sempre compensadas por Frederick Aursnes, que quase nunca desguarneceu o flanco (apenas num lance, na primeira parte, isso aconteceu) sendo ainda solicitado para o jogo interior, por forma a deixar o corredor a Dedic, aumentou a eficácia do binómio Berrenechea/Ríos.
Mas há ainda outra ‘nuance’ que merece relevo e que volta a remeter-nos para a comparação entre Dedic e Carreras, embora sejam de flancos opostos. Na época passada, sempre que o Benfica sentia necessidade de atuar com três centrais, era Carreras quem se colocava ao lado de António Silva e Otamendi, sendo a lateral entregue a (a maior parte das vezes) a Akturkoglu. Ora, na presente temporada, esta solução continua presente, embora os intérpretes sejam outros: é Dedic quem se junta a António Silva e Otamendi, e Aursnes quem faz o papel de lateral, onde se sente, aliás, como peixe na água.
Já no lado esquerdo do Benfica as coisas são diferentes. O futebol de Dahl é mais conservador, e serve sobretudo, não para chegar à linha de fundo, mas para dar suporte ao ala, ontem em primeiro lugar Schjelderup (exibição muito positiva) e depois Prestianni.

DUPLO-PIVOT
Os jogadores que têm ocupado o duplo pivot, argentino Berrenechea, como ‘seis’ e o colombiano Ríos, como ‘oito’, têm-se complementado bem, graças aos estilos diferentes que têm: Ríos é mais criativo e assume-se como o ‘playmaker’ da equipa – e desde Enzo Fernández ninguém era chamado, de forma tão evidente, a este papel -, mas nunca descura o posicionamento defensivo, o que permite maior conforto a Berrenechea, mais posicional, taticamente evoluído, e com uma grande fiabilidade nos passes curtos e médio. Em relação à posição ‘seis’, só um tolo retiraria Florentino da equação, ao mesmo tempo que Manu ainda terá uma palavra a dizer em 2025/26. Finalmente pode dizer-se que o Benfica tem esse lugar salvaguardado com qualidade.
Sobre o guarda-redes (Samuel Soares não é carta fora do baralho) e os centrais haverá pouco a acrescentar, conhecem-se bem, Trubin parece mais fiável no jogo com os pés, e António Silva surge determinado a não cometer os erros infantis, em passes fáceis, que o comprometeram na época passada. Já Otamendi é o patrão incontestado da equipa, sendo que o setor conta ainda com Tomás Araújo, o que é um ‘seguro de vida’ para Bruno Lage.

O QUE FALTA...
Finalmente o ataque. Pavlidis fez uma época de 2024/25 de menos a mais, e terminou a época dono e senhor do lugar que disputava com Belotti, Arthur Cabral e Amdouni. Porém, não foram poucas as vezes em que o ponta-de-lança grego foi deixado entregue à sua sorte, sujeito a marcações de pelo menos dois defensores. Com a chegada de Ivanovic, 21 anos, o panorama muda substancialmente, porque as preocupações dos adversários dobram, os espaços surgem com mais facilidade, e pelo que foi visto em Nice – o croata sabe jogar futebol - não será difícil adivinhar um entrosamento rápido e quase intuitivo entre os dois.
Há um ano, como se viu, o Benfica dispunha de quatro jogadores para a posição de ponta-de-lança, ocupada apenas por um deles. Na presente temporada, apenas Henrique Araújo se junta a Pavlidis e Ivanovic, num contexto de utilização em simultâneo de dois avançados. Assim, as contas são fáceis: o Benfica deve ir ao mercado em busca de mais um ponta-de-lança. E não só. Mesmo que Akturkoglu não vá para o Fenerbahçe, perante a lesão prolongada de Bruma (além da saída de Di María), será da mais elementar prudência que os encarnados procurem outro extremo, que para além da natural missão ofensiva, tenha as qualidades defensivas que o 4x4x2 visto em Nice exige. Embora só a pescada já o seja, antes de sê-lo, é pouco provável que o Benfica não chegue ao ‘play-off’ da Champions, como Feyenoord ou Fenerbahçe. Ter estes reforços operacionais para esta fase (idealmente ainda se juntaria um outro ‘oito’...) é a missão que os responsáveis encarnados têm em mãos, conhecedores como são do que está em jogo, em múltiplas vertentes, nessa eliminatória de acesso à fase regular da Liga dos Campeões."

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