"De um treinador perdido e inseguro nunca poderá nascer uma equipa de forte personalidade e afirmação. Schmidt tem de sair do seu labirinto
Penso, muito sinceramente, que Roger Schmidt não sabe o que se passa na cabeça dos seus jogadores. Tem de ter a noção de que se passa alguma coisa que, sem aviso prévio, os leva a sentirem-se condicionados e a jogarem sob brasas, numa intranquilidade que condena qualquer tática ao fracasso. Mas por que será que isso acontece? A pergunta, para um jornalista, é óbvia e legítima. Porém, feita pelo próprio líder do grupo torna-se grave e, até, indesculpável.
Um treinador de uma equipa em manifesta crise psicológica, com jogadores sempre assustados pelo que possa vir aí e correr mal, tem de saber as causas, quanto mais não seja, para medir as consequências. Claro que pode ter um discurso otimista para o exterior e dar sinais de que está tudo sob controlo, mas esse não pode ser um comportamento de validade sem prazo, fora de qualquer compromisso com a realidade. É fácil para o comum dos observadores constatar que o treinador alemão está a passar por muitas dificuldades. Não consegue, sozinho, encontrar antídoto para o veneno que destrói todas as tentativas de crescimento consolidado da equipa e, pelos vistos, não tem, no seu ciclo profissional mais restrito, quem o ajude a encontrar respostas.
A segunda parte do jogo com o Inter foi ainda mais preocupante porque se sucedeu a uma primeira parte de invulgar competência, onde tudo parecia estar a correr bem. Essa primeira parte deveria ter sido mais do que suficiente para acalmar os jogadores, dar-lhes a confiança que lhes tem faltado e impulsioná-los para uma segunda parte de apoteose. Mas não foi o que se viu. Pelo contrário, a equipa que se instabiliza e se diminui em qualquer contrariedade que encontra pelo caminho, também mostrou não se adaptar a situações de sucesso.
Pensemos um pouco: se o desastre acontece numa reta e com o carro à velocidade de cruzeiro, alguma coisa de grave aconteceu ao condutor. É decisivo começar por se perceber o quê. O que parece, embora careça, naturalmente, de confirmação, é que de um treinador perdido e inseguro nunca pode nascer uma equipa de grande personalidade e afirmação. Mas, se assim for, o que levará um treinador que fez uma época desportivamente notável e pôs uma equipa a jogar um futebol atrativo e vencedor, a regredir de tal forma que a sua equipa se torna irreconhecível?
Schmidt, muito dentro do tipo de personalidade alemã, não gosta de se expor, nem de discutir publicamente as suas dúvidas, ou confessar as suas inquietações. Já foi mais longe do que se poderia esperar quando lembrou que o Benfica tinha ficado sem Grimaldo, sem Enzo Fernández e sem Gonçalo Ramos e que por isso nunca poderia ser o mesmo. Mas não explicou o que todos os benfiquistas gostariam de saber: qual a razão de terem falhado tão clamorosamente as escolhas para as laterais direita e esquerda da defesa e por que razão colapsou, até agora, a gorda contratação de Arthur Cabral?
Claro que os benfiquistas e todos os observadores minimamente atentos dos jogos do Benfica percebem que a solução dos problemas começa no treinador. Ou Schmidt, com ou sem ajuda, encontra saída no labirinto em que se meteu; ou Rui Costa, na altura que entender como mais conveniente, terá de tomar uma decisão mais drástica e definitiva no que respeita à continuidade do treinador.
Desejável para o Benfica seria que o restrito universo do seu futebol profissional encontrasse uma solução consistente e eficaz. O Benfica já perdeu, e de forma desastrosa, a sua época europeia. Tem de se concentrar, agora, nas provas nacionais e reconquistar a confiança abalada dos seus adeptos."
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