"Benfica e Ajax levam a passagem aos quartos de final da Champions para Amesterdão depois de um empate (2-2) que os encarnados agarraram com uma 2.ª parte em que tiveram oportunidades para ferir ainda mais os neerlandeses, que não tiveram a paz e a calma que o seu terceiro equipamento de homenagem a Bob Marley lhes deveria ter suscitado
Aquelas três listas correndo no preto levam-nos logo para aquele ambiente, o reggae que cantava Bob Marley e que desde 2008 faz também parte do folclore do Ajax. Foi nesse ano, num particular no País de Gales, que os adeptos do clube de Amesterdão, fechados numa bancada à espera de autorização para sair, deixaram de lado a impaciência e abraçaram o ambiente. Na estereofonia passava “Three Little Birds” e eles cantaram e divertiram-se, Don’t worry about a thing, ‘cause every little thing gonna be alright, e aquilo foi de tal forma catártico que a partir daí cantaram e divertiram-se muitas mais vezes com aquele hino.
Ao ponto do clube, esta temporada, homenagear a cultura rastafari vinda de lá longe da Jamaica com um terceiro equipamento com pormenores a verde, amarelo e vermelho e com os três pequenos pássaros nas costas, que depois a UEFA mandou retirar porque há regras para tudo, até para o que pode aparecer numa camisola de futebol e aparentemente três pequenos pássaros e uma mensagem de paz são coisas mais graves que publicidades a casas de apostas, a empresas de gás, essa coisas.
A camisola é bonita, com ou sem os passaritos, e deve ter às tantas inspirado um acordar não na manhã mas nesta noite em Lisboa ao Benfica, mas tudo até podia ter ficado mais alright para a equipa portuguesa na 1.ª mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões. Porque no Estádio da Luz, principalmente na 2.ª parte, viram-se mais as fraquezas dos neerlandeses do que os pontos fortes e fica a ideia que o Benfica as poderia ter aproveitado melhor.
Porque nem sempre será assim. O Ajax é uma equipa que vive para ter bola, que só se sente feliz com ela e que faz tudo para dela não se separar. Com ela em sua posse, é uma equipa temível, e que o diga o Sporting, por duas vezes este ano. Esta quarta-feira, porém, houve muitos momentos em que não a teve. E aí deixou espaço e desordem para o Benfica se mover em ataques rápidos, coisa que a equipa portuguesa também faz bem. Na 1.ª parte, o domínio começou repartido, não declarado por ninguém e o Ajax marcou primeiro num erro do Benfica, aos 18’, uma reposição atabalhoada de Vlachodimos à qual Grimaldo respondeu com uma receção ainda pior. Aproveitou aquele lado direito celestial do ataque neerlandês, com Antony e Mazraoui – foi do marroquino o cruzamento que valeu a finalização de classe de Tadic, sozinho na área num Benfica completamente desequilibrado após o erro na saída de bola.
Sofrer um golo cedo de uma equipa que ataca sofregamente é um risco, mas apesar da vantagem o Ajax não estava a ser a máquina debulhadora que se esperava. O Benfica já tinha outros erros às costas que os campeões dos Países Baixos tinham desperdiçado em ataques rápidos mal amanhados e o outro lado do campo está longe de ser uma fortaleza para o Ajax. Aos 26’, Vertonghen insistiu num lance após um canto e teve a recompensa: o cruzamento tenso do homem formado na equipa que esta noite defrontava foi encontrar o pé de Haller, que marcou, desta vez na baliza errada – marcaria na certa apenas três minutos depois, após um cruzamento de Berghuis.
O Ajax chegava assim em vantagem ao intervalo – e nos últimos segundos da 1.ª parte ainda teve uma bola ao poste, de Alvarez – mas o Benfica tinha o mapa do tesouro na mão para usar se assim o entendesse. Porque o espaço era muito, os corredores abertos para os encarnados aproveitarem estavam lá, mas também houve naqueles primeiros 45 minutos muito nervosismo e um ror de decisões erradas.
As decisões certas não surgiram subitamente na 2.ª parte, porque se tivessem surgido talvez o Benfica tivesse mesmo ficado em vantagem na eliminatória. Com menos capacidade de reter a bola, o Ajax tornou-se uma equipa muito errática após o intervalo, pouco confortável em campo e a expor-se muito ao erro, perdendo, pelo caminho, o jeito para cheirar o sangue no ataque. As arrancadas de Rafa começaram a fazer mossa, mas o avançado português nem sempre teve a cabeça fria para lhes dar o melhor seguimento: aos 60’ o passe para Darwin saiu com demasiada força e aos 69’ a bola até chegou a Yaremchuk (entrou e deu logo peso ao ataque encarnado) mas o ucraniano deu mal na bola e depois permitiu o corte a Timber.
Correria bem, finalmente, aos 72’: Rafa acelerou, Gonçalo Ramos rematou de pé esquerdo à entrada da área e à defesa deficiente de Pasveer Yaremchuk respondeu com o instinto de oportunidade que todos os atacantes devem ter. Estava lá para a recarga e no festejo tirou a camisola para mostrar um dos símbolos da Ucrânia, mesmo nas barbas dos placards da Gazprom.
Não reagiu bem o Benfica no momento em que tinha o élan do seu lado. Nos últimos 20 minutos, os encarnados encolheram-se novamente, voltaram a permitir que o Ajax tivesse bola, que estacionasse um estado emocional que quase descarrilou na 2.ª parte. E com isso não foi em busca de um resultado mais feliz, que esteve perfeitamente ao alcance. Não haverá na Europa muitas equipas a atacar com a fome deste Ajax, não haverá muitos extremos tão cara de pau como Antony, mas há muito por onde ferir os neerlandeses. O Benfica só o conseguiu a espaços e depois de desperdiçar toda uma 1.ª parte. Tudo podia ter ficado mais alright, Benfica, mas as novas regras dos golos fora ditam que daqui a duas semanas a eliminatória comece praticamente do zero. Tudo empatado. E com um Benfica sem necessidade alguma de se sentir um pequeno pássaro, um underdog, this is my message to you."
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