"O conceito de responsabilidade social das empresas (RSE), está a se integrar, cada vez mais, no mundo do desporto. Não existe uma definição universal deste conceito, mas comporta a ideia de que a empresa não é apenas a garantia da maximização do lucro pelos seus acionistas. Ela deve ser uma fonte de benefícios para o conjunto da sociedade. Do ponto de vida da Comissão Europeia (CE), a RSE é a integração voluntária de preocupações sociais e ecológicas das empresas nas atividades comerciais e nas relações alargadas do seu campo de aplicação às organizações em geral (CE, 2001). Grosso modo, a RSE articula-se em torno de quatro dimensões: obrigações económicas, legais, filantrópicas e éticas. A norma ISO 26000 possui diretrizes sobre a RSE.
A transposição do conceito RSE no campo do desporto profissional é recente. Nasce, sobretudo, da pressão das ligas desportivas profissionais americanas nos anos 1970. As contribuições (artigos científicos) norte-americanas referem que os clubes e as ligas desportivas profissionais foram durante muito tempo os motores da realização de práticas sociais incarnadas pela cultura “giving back”, ela mesma inscrita nos valores éticos protestantes dos EUA no início do século XX (François, 2013). Essas ligas criaram numerosas atividades de “caridade business”, permitindo recolher massivamente fundos, por forma a financiar programas de educação e de integração nas comunidades.
Ancorado no movimento geral do desenvolvimento durável, a responsabilidade social (RS) tornou-se parte dos discursos de alguns dirigentes das organizações desportivas. Mas bem que os seus princípios fundamentais sejam inscritos no desporto, as organizações desportivas ainda têm muitas dificuldades em integrar esta nova conceção nos seus projetos, na sua gestão e nas suas práticas. O desporto tornou-se, no entanto, um setor de atividade essencial na vida dos territórios, respondendo a problemáticas das sociedades, como a educação, a integração social, a saúde, o desenvolvimento económico e o emprego. É certo que já se vê uma série de iniciativas a favor da integração da RS nas lógicas de funcionamento das organizações desportivas, mas muito há para fazer e explorar. Em matéria de iniciativas sociais, notamos que grandes instituições mundiais e europeias se dotam de programas de RS específicos ao tratamento de problemas societais. É, por exemplo, o caso da Federação Internacional de Futebol (FIFA), com o seu “Football for hope”. Enquanto ferramenta de comunicação estratégica, a RS deve ser planeada e tida em consideração. Pode ser utilizada como um meio de lutar contra as derivas ligadas às externalidades negativas no desporto: dopagem, corrupção, apostas ilegais, etc. Os “consumidores” desportivos, e não só, tendem a desenvolver uma opinião mais favorável aos “produtos”, sobretudo quando se apoiam instituições de solidariedade social ou causas.
Em Portugal, os estudos sobre a RS no âmbito desportivo são muito escassos. E os que vão sendo publicados partem do postulado de que o desporto é um vetor natural de RS (Moreira, 2016; Pinho, 2017). Deixo aqui a sugestão de realização de um estudo: aplicar um inquérito por questionário e entrevistas semiestruturadas aos dirigentes de clubes desportivos, por forma a conhecer a perceção que os atores têm da RS e a forma como as práticas que se inserem neste conceito são operacionalizadas. Por outro lado, era importante saber se promovem a avaliação das práticas de RS que são levadas a cabo e os seus resultados."
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