"Os mais idosos estão a passar um mau bocado. Eles são seguramente as maiores vítimas desta pandemia que ceifa vidas a torto e a direito, impiedosamente, por esse mundo fora. Por mais que se cuidem e que eles cuidemos, o espectro de perigo estão sempre presente, pairando no ar como uma ameaça iminente, amedrontando, confinando, tolhendo as mais ínfimas liberdades do dia a dia, que assim se vai pondo mais cinzento, agravando a solidão de muitos e cobrando, pelo sossego, a ausência de filhos e entes queridos. Mas há que reagir, e reage-se! Por isso, nunca como hoje os mais velhos se aproximaram das novas tecnologias, vencendo a resistência à mudança e descobrindo novos usos nos telemóveis de sempre. É certo que podem ser envervantes e complicados, mas a troco de todos os trabalhos trazem netos a sorrir, famílias e aproximarem-se mais e amigos a quem dar a mão, seja num clique, seja no toque suave dum ecrã.
Não é o mesmo: faltam as pessoas, o tacto, o compromisso do olhar, a luz dos sorrisos ou o aroma dos perfumes. Mas não falta a alma da gente, que se redobra em esforços por compensar com afectividade a dureza da distância. Nada pior para um ser gregário como nós, que disso dependemos para ter sucesso no jogo frio da evolução e da sobrevivência do mais forte, que ter de praticar em massa o distanciamento social como estratégia de sobrevivência. É contrário à nossa natureza e custa muito. Parece uma ironia e é, de facto, uma trágica ironia. Mas, apesar de tudo isto, sobreviveremos quase todos. Sobreviverão também os mais idosos, pelos cuidados tidos, mas terão de chegar adiante, a esse dia luminoso de esperança em que a medicina dará conta do recado e mandará a covid para o mesmo destino de tantas e tantas doenças imabatíveis, que a história humana mostrou vencer uma e outra vez. Mas, para já, é preciso manter corpo e alma em boa forma, e uma boa maneira de o fazer é adaptar tudo o que fazemos à nova realidade, mas nunca desistirmos de o fazer. Nós no Benfica sabemos bem o que isso é, resistir e nunca baixar os braços, prevalecer sobre a adversidade e, inevitavelmente, vencer. Por isso, a Fundação Benfica mantém todos os seus projectos com as devidas adaptações. Por isso, também, vemos com orgulho os nossos idosos a manterem as aulas em dia nas universidades seniores online, cultivando os saberes e as amizaddes de sempre e gozando a vida como o privilégio que efectivamente é. Num qualquer destes dias voltaremos aos relvados para os ver jogar walking football, e a festa será de arromba. Força, pessoal!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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