"Assisto às novelas do futebol português há 40 anos. E nestas quatro décadas já vi tudo, dentro e fora dos relvados. Do tempo do garrafão e do piquenique no Terceiro Anel até aos dias de espionagem empresarial com recurso a piratas informáticos vai um longo caminho. O país e o mundo modernizaram-se, mas os velhos hábitos nunca se perderam. Entre eles, o tradicional costume português da inveja que os nossos rivais se alimentaram. E ainda alimentam.
Não tenho medo da concorrência, desde que leal. Não receio qualquer adversário quando estamos em campo, nas pistas ou nos pavilhões porque, no fim das contas, não duas equipas feitas de homens e mulheres que se defrontam. E foi assim que cresci a ver futebol e o desporto em geral.
Depois começou a sujidade: os festejos por o SL Benfica ter perdido a final de uma Taça dos Campeões, as viagens e outros serviços pagos a árbitros, o alimentar constante da guerra provinciana contra Lisboa, o Apito Dourado e a fuga para Vigo, a condenação por corrupção, a coacção (muitas vezes física) sobre árbitros, jogadores e treinadores, a máquina de comunicação sem escrúpulos, os políticos que se juntam em conselhos de honra e nos fazem pagar centros de estágio, os magistrados do camarote presidencial que ilibam qualquer suspeito nos tribunais da região do Porto, as bancadas que entram em perigo ao intervalo de um jogo em que o resultado não é favorável, as contas negativas, o fair play financeiro violado, as dívidas, as comissões pagas aos dirigentes, a claque que é um braço armado, os casos de indisciplina interna abafados, o discurso beligerante, cabe tudo nesse imenso saco azul que alimenta, há quase 40 anos, o clube mais representativo da segunda maior cidade portuguesa. E agora querem aparecer como paladinos da verdade. Haja paciência."
Ricardo Santos, in O Benfica
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