"A provar que tudo se pode conciliar, depois de casar e ter filhos, Maria da Conceição continuou a dedicar-se ao desporto.
Num período em que o desporto era considerado 'coisa de homens' e Portugal vivia sob uma ideologia política que defendia que o papel social da mulher era o de esposa, mãe e dona de casa, muitas mulheres mostraram que podiam ser isso tudo e muito mais, inclusivamente atletas. E houve homens que o apoiaram.
Em Lisboa, cidade grande, a possibilidade de praticar desporto num clube ou numa associação até chegava a grande número de meninas e jovens. Para muitas, o desporto rapidamente deixava de ser uma mera actividade recreativa e passavam a dedicar-se-lhe afincadamente e a competir. Porém, para a maioria, terminada a vida de solteira, viam igualmente findada a sua carreira atlética. Mas outras houve que conseguiram vencer 'os preconceitos que, à sua volta, se erguem para a afastar dos campos de desporto' e conciliar a vida familiar com a desportiva, mostrando que a mulher pode querer e ser muito mais que 'um ser sem quaisquer outras ambições que não sejam as de ficar no seu lar, simples e recatadamente aguardando a chegada do esposo'.
Pelo Benfica passaram alguns exemplos. Entre eles, o da voleibolista Maria da Conceição Magalhães - filha de Germano de Campos, também ele atleta 'encarnado' -, um 'caso curioso de uma senhora casada que continua (...) a dedicar-se às práticas desportivas', como referiu a revista O Benfica Ilustrado, em Janeiro de 1963.
Maria da Conceição chegou ao Benfica 'bastante nova, quase mesmo de miúda'. No voleibol 'encarnado' conheceu José Magalhães - jogador e, posteriormente treinador das Marias, a equipa de voleibol feminino que venceu 9 Campeonatos Nacionais consecutivos nos anos 60 e 70. Casou, foi mãe e, facto considerado à época, 'invulgar e talvez inédito', continuou a jogar.
Em entrevista, Maria da Conceição frisou: 'Julgo que tudo se poderá conciliar!'. Por seu turno, José, que a apoiava 'a continuar a dedicar-se ao voleibol', sublinhou: 'Só vejo vantagens na prática do desporto pela mulher!'.
O casal Magalhães que, no início dos anos 60, capitaneava as equipas seniores feminina e masculina, esteve em destaque na edição de Janeiro de 1963 d'O Benfica Ilustrado, cujo original se encontrava em arquivo no Centro de Documentação e Informação do Sport Lisboa e Benfica."
Mafalda Esturrenho, in O Benfica
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