"Palco da final da Taça das Confederações, o Estádio de São Petersburgo, inserido no Parque da Vitória Marítima, na Ilha de Krestovski, é uma obra formidável que merece uma visita e jogos de futebol de topo. Portugal venceu aqui a Nova Zelândia por 4-0.
Já passa da meia-noite em São Petersburgo e ainda há uma luz sobre a cidade. Parece que a noite nunca se põe, aqui na beira do Báltico.
No momento em que escrevo, terminou a primeira fase da Taça das Confederações e Portugal, como se esperava, cumpriu o seu Destino, assim mesmo, com maiúsculas.
Um empate com o México, em Kazan, a abrir, com alguma dose de desilusão por via do golo consentido no minutos final, uma vitória seca mas segura frente à Rússia, tão fraquinha, benza-a Deus, e uma goleada frente à Nova Zelândia, grupo de rapazes com boa vontade, mas apenas abana-pinheiros vindos lá do Pacífico Sul.
Nota surpreendente: o Estádio de São Petersburgo.
Já jogou o Benfica nesta cidade por mais de uma vez. Mas no Estádio Petrovski, que consigo espreitar da janela do meu quarto, aqui em frente, na outra margem do Neiva. Estádio muito soviético, entalado entre pequenos canais que o rodeiam e nos quais, ao fim da tarde, os homens vêm pacientemente pescar. Compará-lo com o novo, para já apenas Estádio de São Petersburgo, mas com o naming já vendido para os próximos anos, casa do Zenit que até tem sido de boa memória para os encarnados. É preciso caminhar bons quilómetros a pé até chegarmos a essa espécie de disco voador, erguido na ilha de Krestovski.
Não se duvida que quem planeou esta nova arena, já que agora é moda chamar arena a todos os campos de futebol do planeta, pretendeu manter as características do seu antecessor, mas desta vez fugindo do centro da cidade para entrar por um bairro de edifícios bem separados uns dos outros, com pracetas e relvados a dividi-los, e erguendo-o no meio de um parque verdejante e encantador. Pois sim, mas a verdade das verdades é que, ainda por cima com os cortes de trânsito que a polícia russa aplica, um mamífero tem de se levantar cedo pela manhã e encher a mochila de sandes de queijo, para não passar fome quando se meter ao caminho, que isto de ir a um disco voador não é como ir a um moinho e requer bem mais paciência e força de vontade.
O disco no parque
Nada de muito original nesta ideia de disco voador, já o arquitecto japonês que o desenhou, Kisho Kurokawa, lhe chamou Nave Espacial. É isso mesmo que parece, pousado no final do magnífico Parque da Vitória Marítima, a dois passos das águas do Báltico nas quais se espreguiçam os paquetes que carregam milhares de turistas durante estes dias em que o sol nunca se põe. Noites Brancas, chamou-lhes Dostoiévski. E como os russos são como muito nós, no rebuço e no viva lá o seu compadre, ei-los que não prescindem, ali à volta do estádio, da sua barraca dos tirinhos, do seu carrinho de choque e da sua montanha russa, pois então, no meio de toda esta salada.
Moderno, especial. Já se sabe que a cada fase final de uma competição vão surgindo, aqui e ali, estádios completamente fora do que estávamos antigamente habituados. Vimos como isso sucedeu em 2004, no tempo do nosso Europeu, vivido em ambiente de festa como nunca se vira em Portugal desde o 25 de Abril.
Os novos estádios russos pelos quais passei, a Arena de Kazan, o Estádio do Spartak, em Moscovo, e agora este, são de uma funcionalidade admirável. Mas, em São Petersburgo, ficamos surpreendidos pela impotência. A Nave Espacial é gigante, o parque que o rodeia parece infinito, os percursos que nos levam até ele fantasticamente arvorejados, as escadarias decididamente grandíloquas.
Tudo foi feito em grande escala, não fossem os russos gente tão desmesurada como o tamanho das suas terras.
Quando o meu paciente leitor tiver passado os olhos por estas páginas, já saberemos se Portugal regressa aqui para disputar a final. Aconteça o que acontecer, o Estádio de São Petersburgo é, sem qualquer motivo para dúvidas, um dos melhores da Europa. E um palco que merece jogos de toda a qualidade. O Benfica e os benfiquistas já sabem. Da próxima vez que os sorteios das taças europeias mandarem marchar para esta cidade formidável junto ao Báltico, terão à sua espera uma obra de truz. Que fica na memória de quem a visita como se fosse a grandiosidade de Hermitage."
Afonso de Melo, in O Benfica
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