"Obrigado a todos os que me criticaram e - também - a todos os que me ajudaram. Mas o maior obrigado, claro, a todos os que me leram.
N - 1
No princípio de 1995, Aníbal Cavaco Silva, então primeiro-ministro de Portugal, quase a completar 10 anos nessas funções (ele que... «nunca foi político» e que passou os 10 anos seguintes a condicionar tudo e todos para poder ser Presidente da República, onde este mais 10 anos... embora - repita-se -... «nunca tenha sido político»), anunciou a sua saída de presidente do PSD, não se recandidatando a essas funções, no Congresso que estava já convocado para o mês seguinte.
E, deixando o PSD como deixou, nos dias seguintes à sua decisão explicou, urbi et orbe as motivações da sua saída.
De entre todas as explicações, houve uma que me tocou - a mim, deputado da então maioria, desde 1987, cargo esse que... apoiando o Governo, sendo ministro de um deles ou na oposição... haveria de exercer até 2009 - de forma especial.
Poucos se lembrarão, até porque esta parte da entrevista a Cavaco Silva é pouco (ou muito pouco) recordada, mas ele explicou que a razão principal da sua saída for ter percebido que, se nas eleições que se realizaram um Outubro, ainda tinha condições para ganhar... já não as teria no acto eleitoral seguinte.
E, assim, teria decidido sair no momento anterior àquele em que seria obrigado a fazê-lo.
Era o que designou da teria N - 1.
Ouvi e - para além de muitas coisas em que me identifiquei com Cavaco... e com algumas em que me sentia nos antípodas do que ele pensava e fazia - não deixei de concordar com esse princípio de vida em democracia.
Devemos sempre deixar os sítios (ou os cargos) de onde seremos obrigados a sair (não interessam agora as causas nem as razões, porque isso é... outra conversa) no momento anterior em que obrigatoriamente o teríamos de fazer.
Claro que as razões dessas saídas poderão ir desde acharmos que não ganhamos as eleições a seguir às próximas (como seria este o caso), de sermos obrigados a sair porque no mandato seguinte deixaremos de ter condições para, em consciência, desempenharmos o cargo para que seríamos eleitos sem violentarmos os nossos valores e os nossos princípios, até à avaliação que fizermos de, se lá continuarmos, a vida se poder encarregar de não deixar que se lembrem de nós como vencedores mas, antes, como vencidos!
Ou seja, N - 1.
Confesso que devo muito - como todos os portugueses - a Cavaco Silva.
Mesmo os que, depois, se desiludiram com ele (e, por maioria da razão, os que nunca se entusiasmaram com a sua liderança).
Mas devo-lhe a teorização deste princípio universal que sempre tive como certo: sair dos sítios antes de nos fazerem sentir a mais!
N - 1... na Bola
Este é - se for publicado - o meu artigo 99 em A Bola. Como - anteriormente, nos anos 90 - já havia escrito em O Jogo e no Record.
O 99.º, desde o dia 13 de Agosto de 2015.
Fazendo, desta forma o pleno dos jornais desportivos (embora, com toda a franqueza, não sei de daqui a 20 anos... os jornais serão tão relevantes... ou existam, mesmo, como há... 20 anos).
Mas isso são previsões para outros momentos, que não os de despedida.
Em 13 de Agosto, era o Benfica bicampeão nacional!
Em 28 de Junho - hoje, portanto - o Benfica é tetracampeão nacional.
Com todas as condições para ser... penta!
Por mim, chegou o momento N - 1, em A Bola.
Com um agradecimento público, sincero e muito sentido, a quatro pessoas que gostaria de nomear.
Ao Vítor Serpa, pela responsabilidade formal do convite e pela simpatia com que sempre me tratou, a mim, simples opinador, ele, um velho monstro sagrado do jornalismo desportivo... apesar de não ser... do Benfica!
Ao Paulo Cardoso, administrador da empresa proprietária do jornal, velho novo (ou novo velho??) amigo, com quem me cruzo... muitas vezes, nos almoços, no... Sinal Vermelho!
O mesmo Sinal Vermelho onde me cruzo com o engenheiro Arga e Lima, proprietário de A Bola e legítimo portador das bandeiras de quem fundou a imaginou o jornal como grande referência da imprensa desportiva nacional, herdeiro não só da propriedade, mas também da superioridade moral e intelectual de quem sabe que há coisas que... se têm ou nunca se terão (e ele tem)!
E, por último, ao José Manuel Delgado, grande amigo dos tempos da Faculdade, em que discutíamos tanto futebol que... passámos a ser amigos para a vida.
Para a vida, independentemente de tudo.
E o tudo significa nunca termos deixado de perceber o papel que cada um desempenhava, o que cada um podia contar, ou, mesmo, o que cada um poderia contar... depois de ter ouvido... muito mais do que poderia ser contado.
É assim a vida!
Como em tudo... também na Bola... N - 1.
E se há lugares de onde saímos, por causa do N - 1, para voltarmos... há outros de onde saímos porque já não queremos lá estar!
Com a percepção certa do eu, no tempo e no espaço... onde devemos estar!
É isso a vida!
Conhecendo o nosso mundo (onde somos actores e guionistas) e... as nossas convicções.
Porque, mais do que nos e as nossas circunstâncias... devemos ser nós e os nossos valores!
Para que, com isso, o tempo volte a ser (todo) nosso!
N - 1... antes do 100, antes do penta, antes de... Obrigado aos meus (em termos deste jornal, obviamente)... 4 cavaleiros do Apocalipse (no bom sentido, claro)!
Obrigado a todos os que me... criticaram e - também - a todos os que me... ajudaram!
Mas o mais obrigado, claro, para todos os que... leram!Obrigado a A Bola!
Até... sempre!"
Rui Gomes da Silva, in A Bola
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