"Ederson Moraes e Rui Patrício (ainda esta semana), Telma Monteiro, Roger Federer, Nelson Évora e tantos outros atletas tem oferecido aos adeptos do desporto em geral, de uma forma mais ou menos consistente, a possibilidade de apreciar a expressão máxima da eficiência do corpo humano, manifesta através da exibição de performances de excelência.
Desempenhos de excelência evidenciam uma sintonia perfeita entre a mente e o corpo onde, de facto, se observa um movimento imperturbavelmente fluido e muito próximo da perfeição.
Contudo, desempenhos extraordinários não são apenas uma "dádiva" que acontece no desporto - na realidade, em qualquer área de performance, na minha e na sua vida, todos nós acabamos por vivenciar momentos quase "mágicos" onde tudo parece bater certo, às vezes, sem esforço evidente.
Em 1990, Csikszentmihalyi, estudando um dos percursores da "felicidade", introduziu o conceito de estado de Flow como "um estado em que as pessoas estão tão envolvidas em uma actividade que nada mais parece importar e onde a experiência é tão agradável que as pessoas continuarão a fazê-lo, mesmo a um grande custo, pelo simples motivo de fazê-lo ".
Desde então, o contexto desportivo tem-se interessado na expressão do Flow no desempenho desportivo, sendo comunmente descrito com "um estado no qual um atleta realiza o melhor de sua capacidade (...) um lugar mágico onde o desempenho é excepcional e consistente, automático e fluido, onde um atleta é capaz de ignorar todas as pressões e deixar seu corpo entregar o desempenho que foi aprendido tão bem tornando a competição divertida e excitante. "(Murphy, 1996).
Estas experiências, de profunda imersão numa actividade onde se retira um imenso prazer no exercício dos skills específicos, resultam muitas vezes em estados alterados de consciência, na medida em que os atletas chegam a ter distorções de tempo, espaço e, inclusivamente, da percepção de fadiga física.
Por esta razão, muito frequentemente, também desconhecem como é que este estado emocional se activa, revelando-se muitas vezes, quase involuntário e inconsciente - o que traduz, na prática, que o atleta não sabe genuinamente como o activar.
Csikszentmihalyi caracterizou este estado emocional com as seguintes características:
* completa concentração na tarefa
* objectivos claros e feedback imediato
* distorção temporal (percepção de tempo acelerada ou lentificada)
* extraordinariamente compensador por si só
* sem perceção de esforço e com grande facilidade
* nível de desafio e de competências perfeitamente equiparado
* consciência e ação num só movimento, sem percepção de "ruído" externo (ex. publico) ou interno (ex: ansiedade)
* sensação plena de controlo sobre tudo o que está a acontecer.
E é aqui que se inicia o desafio para qualquer atleta...
Como aprender treinar tudo isto?
Qualquer uma destas alíneas compreende o exercício de uma série de competências psico-emocionais que os atletas (poderíamos estar a falar de treinadores, bailarinos, gestores, médicos... porque se trata de performance, independente do contexto em que ocorre) irão aprender, ora mais rápido ora mais lento, maioritariamente por tentativa e erro, à medida que os seus níveis de auto-consciência e auto-regulação se vão tornando mais eficientes.
Por esta razão, e quando de alto nível se trata, a vertente psico-emocional torna-se determinante para que o atleta consiga obter performances consistentemente (entenda-se, dentro de cada competição e entre competições) de nível superior, favorecendo o aumento da frequência de desempenhos extraordinários (em estado de Flow).
Por esta razão, e muito frequentemente, uma das principais características que estes atletas evidenciam, desde cedo (e não apenas quando estão já num patamar mais elevado), é uma enorme curiosidade pela optimização de todos os processos que potenciam a exibição de performances consistentemente elevadas, socorrendo-se, para o efeito, de áreas tão distintas como a Fisiologia, a Nutrição e a Psicologia...
Até porque, como se bem sabe, para termos todos os recursos cognitivos e emocionais "intactos", que garantirão o exercício de skills tão distintos como a capacidade de tomada de decisão ou de gestão de stress e ansiedade, é preciso haver um equilíbrio cirúrgico com a nossa energia fisiológica.
Sendo que, em última análise, e como tem sido frequentemente relatado por atletas de alta competição, a Excelência resulta de um movimento fluído e uníssono entre corpo e mente, onde, muitas vezes, esta última acaba por resgatar um corpo que nem sequer está no seu "estado óptimo", na direcção de uma Performance Extraordinária."
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