"O mundo riu-se quando viu o guarda-redes suplente do Sutton, Wayne Shaw, 140 quilos e 47 anos bem vividos, a comer uma sandes no banco durante o jogo da sua equipa frente ao Arsenal, para a Taça de Inglaterra. Os ingleses gostam de apostar e fazem-no em todo o mais alguma coisa e até alguém se tinha lembrado de colocar um item com esta possibilidade num site da especialidade. A suspeita levantou-se e Wayne Shaw, segundo um comunicado do Sutton, «renunciou ao seu lugar no clube». Forma britânica e pomposa de dizer que se despediu; foi-se embora.
Afinal, a gula do enorme - em tamanho - keeper pode não ter sido assim tão inocente? Pelo meio, ficou a frase genial do seu antigo companheiro nas camadas jovens do Southampton, Alan Shearer: «Eu segui o meu sonho até à Premier League; ele seguiu a carrinha de hambúrgueres». Inocente ou não, o episódio globalizou-se e Wayne até pode ter ganho alguns trocos com a brincadeira.
Trocos ou pouco mais do que isso é o que ganham a maioria dos jogadores das divisões secundárias em Portugal. Muitos, imensos, correm atrás do sonho e dos milhões ganhos por uma minoria. O sonho alimenta a alma, mas com poucos mais de €600 por mês e, muitas vezes, com salários em atraso, os pensamentos que lhes bailam na cabeça, por mais belos que sejam, não chegam para confortar minimamente o estômago.
Desta realidade até ao aliciamento por parte de quem quer ganhar dinheiro fácil o caminho para a padaria será sempre mais curto do que até ao sonho, depende da consciência de cada um. Com famílias para sustentar e com a conta bancária a zero ou perto disso, não será fácil resistir à tentação. Às instituições que regem e gerem o futebol nacional urge tomar medidas; às autoridades estarem alerta. Sob pena de que, como diz Sérgio Godinho, estar tudo à espera do comboio na paragem do autocarro."
Hugo Forte, in A Bola
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