"1. A inspiração de Carlos Tê já pôs um Jardel (SuperMário) a voar entre os centrais. Duas dezenas de anos depois desse «Não me Mintas», imortalizado pela voz de Rui Veloso, eis que outro Jardel, também a voar entre os centrais, colocou ontem o Benfica muito perto de sagrar-se tricampeão nacional, proeza que persegue há 39 anos.
Com o 33 nas costas, Jardel Nivaldo Vieira, a passe açucarado de Nico Gaitán, cabeceou para o fundo das redes de Miguel Silva e o 35 que a Luz pede desde o primeiro dia ficou à distância de uma ou duas vitórias, dependendo do que o Sporting fizer hoje no Dragão. Tantas lágrimas choradas na casa encarnada por Garay e, afinal de contas, Jardel afirmou-se como esteio da equipa, prova provada de que os cemitérios estão cheios de insubstituíveis e só faz falta quem está...
2. É da lenda do Benfica que no Estádio da Luz a baliza sul é maior do que a norte. É por isso que os encarnados, tanto no velho anfiteatro quanto neste, preferem atacar para sul na segunda parte. Ontem, Jardel aproveitou-se do mito para selar, na baliza grande, a mais difícil vitória benfiquista da época, feita de sangue (de Éderson), suor e lágrimas.
3. A primeira parte do jogo de ontem, na Luz, pareceu tirada do futebol sul-americano dos anos sessenta ou setenta, com o V. Guimarães - de catenaccio montado - a procurar quebrar o ímpeto encarnado com uma série de faltas e muito antijogo. A estratégia surtiu efeito: os donos da casa, com a pressão do mundo em cima dos ombros, raramente se soltaram do garrote físico e psicológico e podiam ter hipotecado o título.
4. Quando, ao minuto 67, Paulo Hurtado, internacional peruano em 2 ocasiões, não conseguiu superar a oposição de André Almeida, salvador, em cima do risco fatal, da pátria encarnada, pode ter ficado escrita a sentença deste jogo. Em futebol não há ses, é verdade. Mas é de admitir que o Benfica iria ter muita dificuldade para reerguer-se se sofresse tal golpe. Valeu-lhe André Almeida que, em noite de escasso discernimento e menor inspiração, vestiu a capa de super-herói e salvou a honra do convento.
5. Faltam dois jogos de campeonato ao Benfica e não é preciso ser muito arguto para perceber que existe um grande défice de frescura (física e mental) na equipa de Rui Vitória. Éderson, Lindelof, Fejsa e Raúl Jiménez são os jogadores com maior reserva, heróis improváveis desta época que levou o Benfica ao patamar dos oito melhores da Champions e à porta do tricampeonato. Hoje, a partir das 18.30, ficar-se-á a saber exactamente o que falta aos encarnados para, pela 35.ª vez, envergarem as faixas de campeão. A pressão está do lado do Sporting."
José Manuel Delgado, in A Bola
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