"Só é pena que haja ainda presidentes em contramão, uns por ignorância, que nem sabem no que votam, e outros por conveniência, que falam muito e dizem pouco...
Este é o Campeonato que se desejava e que quantos apreciam bom futebol, apaixonados pelos clubes mas sem fanatismos nem outros comportamentos reprovável, estão a viver com especial intensidade. Mesmo reconhecendo a nossa pequenez territorial, com dez milhões de habitantes apurados com alguma dificuldade, e a condição de país periférico, a verdade é que o futebol português tem conseguido dar passos de gigante no sentido de uma mudança cultural na observação do jogo e na perspectiva que dele se deve ter numa sociedade moderna e civilizada.
Já não é apenas em Inglaterra, onde os títulos são discutidos ao 'sprint', ou em Espanha, onde a superioridade Barça-Real começa a ser disputada pelo Atlético Madrid e o Valência que já neste século os suplantou.
Portugal começa a transmitir importantes sinais de querer libertar-se dos grilhões que a facção mais conservadora, ou mais habilidosa, da classe dirigente teima em manter activos na defesa de interesses próprios, os quais, na maioria dos casos, colidem com a saúde do negócio e a valorização do espectáculo.
As pessoas, mais jovens ou mais velhas, mais avisadas ou mais distraídas, mais inflexíveis ou mais condescendentes, de uma maneira geral, já perceberam que o caminho a percorrer tem de ser diferente daquele que arrozoados feitos de insinuações pouco claras sugerem, erguendo-se aqui uma linha de fronteira entre o passado/presente e o futuro: espécie de biombo entre os que dão atenção ao jogo jogado sobre o relvado, com os defeitos e as virtudes dos intérpretes (jogadores, treinadores e árbitros), e os que se agarram aos jogos 'fora das quatro linhas', para desculparem derrotas ou, mesmo quando ganham, manterem este estado de graça por 'tempo indefinido'...
Ouvi, este domingo, a um comentador que aprecio, que andar sempre a falar do passado para justificar insucessos do presente não tem cabimento. É o reflexo de quem teme o futuro, acrescento eu.
O Campeonato português está bem, pratica-se futebol de melhor qualidade e os três candidatos, porque continuam a ser três, cada qual com os seus argumentos, mantêm-se na luta, sabendo-se que só um poder ganhar. O Braga consolida o estatuto de 'quarto grande' no presente. Arouca, Rio Ave, Paços de Ferreira e Estoril passaram de surpresas a confirmações. Além de tudo isto, emerge com entusiasmo e confiança outra geração de treinadores, mais sabedora e ambiciosa, e a questão que nos tem preocupado sobre o rejuvenescimento da Selecção parece resolver-se com a afirmação de mais talentos, casos de João Mário, Renato Sanches, Danilo Pereira, William Carvalho, Nélson Semedo, Rúben Semedo ou André Silva.
O público gosta e compreende. Mais gente nos estádios, com incidência no elemento feminino. Os grupos organizados de apoiantes (claques) também eles estão a tentar controlar excessos e reacções truculentas, devendo destacar-se o facto de nenhuma situação preocupante ter sido registada nos jogos já realizados entre os grandes.
Alterações tradutoras de uma evolução ao nível das mentalidades, difícil, sem dúvida, mas que avança, impulsionada pela imagem de um 'nova' Federação liderada por Fernando Gomes, respeitada na UEFA e na FIFA, que se modernizou através de uma organização competente, empreendedora e desafiante. Só é pena que entre os clubes haja ainda presidentes em contramão, uns por ignorância, que nem sabem no que votam, e outros por conveniência, que falam muito e dizem pouco...
Nota - Há uma semana, a propósito de uma coisa a que chamei «A lista de Bruno», escrevi que se a verdade incomoda, a independência incomoda muito mais, frase que deve ter entupido a 'linha verde' das redes sociais, tal a excitação que provocou. Independência, sim: liberdade para escrever e dizer pela minha cabeça, sem estar sujeito a pressões ou recados. Há quem não goste? Paciência. Nos muitos metros de prosa que somo nesta coluna de opinião, não me recordo de ter referido o nome de Eduardo Barroso, a quem vejo, e sempre vi, como médico conceituado e de enorme prestígio e não como adepto de bancada. No entanto, entendeu ele, devido ao mesmo assunto, envolver-me em deselegante teia de considerações. Para mim, o futebol deve ser visto como caleidoscópio de rivalidades apaixonadas, jamais como vazadouro de rancores tribalistas. Admito, porém, que haja quem defenda ideia contrária."
Fernando Guerra, in A Bola
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