"Nestas 45 horas, houve espaço para enjoos, cumprimentos sentidos e embarcações vizinhas e piadas de gosto duvidoso.
A 10 de Julho de 1949, 27 anos depois da primeira ida à Madeira, o Benfica regressou à 'Pérola do Atlântico' para ali disputar dois jogos particulares com o Nacional e o Marítimo. A viagem a bordo do Lima, o navio que os levou ao Funchal, adivinhava-se longa e sinuosa. Naquela altura, o percurso Lisboa-Funchal demorava cerca de 45 horas! Por isso, muitas pessoas que se foram despedir dos jogadores à gare de Alcântara não se pouparam nas advertências acerca dos enjoos. A intenção era boa mas a maioria dos atletas, convencidíssimos que tinham nascido para serem 'lobos do mar', fizeram orelhas moucas e ignoraram os conselhos. Fizeram mal. Assim que o Lima passou Cascais, levantou-se uma ventania tal que deu ao navio um 'cadenciado balanço'. Os rostos, tão confiantes em terra, vestiram-se de aflição. Foi uma luta para que o almoço, ingerido momentos antes, ficasse no estômago e uma verdadeira prova de resistência à inexperiente tripulação. Muitos deles, à socapa, foram descendo aos camarotes, ansiosos para descansarem a cabeça de tanto balanço. Dos 22 membros da caravana benfiquista, apenas três se aguentaram firmes na popa do navio. Desses três, apenas um era jogador.
Ainda nessa tarde, o Lima cruzou-se com Carvalho Araújo, o paquete que transportava a equipa do Belenenses, regressada de uma viagem à Madeira e aos Açores. Os comandantes das respectivas embarcações cumpriram o cumprimento da praxe e os jogadores, que estavam a levar com toda aquela experiência muito a sério, não quiseram ficar atrás. Debruçaram-se das janelas e, de lencinho branco em punho, acenaram em jeito de cumprimento aos colegas azuis do Restelo.
Trinta seis horas depois de abandonarem o Tejo, um exasperado Américo Silva, director da secção de futebol, queixou-se do tempo que a viagem estava a demorar. 'Ainda se ao menos se visse terra. Mas não.' Um marujo que se encontrava ali perto ouviu o lamento e prontamente informou o seccionista de que estava errado. 'Não vê terra porque não quer. Eu ainda há bocado a vi'. Américo deu um salto da espreguiçadeira, onde estava confortavelmente deitado há horas, e começou a olhar em redor. 'Terra? Mas onde?'; 'Na ponta do navio. Num vaso com flores'. Quem diria que, a bordo do Lima, havia um pequeno Badaró!
Pode saber mais sobre as digressões do Benfica na área 26. Benfica Universal do Museu Benfica - Cosme Damião."
Marisa Furtado, in O Benfica
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