"No dia 20 de Março, saiu aquela que viria a ser a derradeira crónica de Johan Cruyff na coluna que tinha no jornal holandês Die Telegraaf, em que falou sobre o último jogo que comentou, premonitoriamente entre uma equipa holandesa (PSV) e uma espanhola (Atl. Madrid). Quatro dias antes da sua morte.
Cidadão do mundo, holandês por sangue, catalão por afecto. Em vida, agora eternizada pela morte, o nome de Cruyff, com a sua fonética neerlandesa, funde-se com futebol, na sua etimologia britânica tornada universal. Foi tudo: campeão, treinador, sindicalista, seleccionador, profeta, comentador, educador, professor, mobilizador, vanguardista.
Nascido um ano depois de Cruyff, pude acompanhar, de perto, o seu mister de arte, engenho, perfeição. Um jogador que jorrava elegância nos relvados, eficácia nas decisões. Foi Cruyff que me levou a gostar sempre do Ajax, ainda que, por duas vezes, o Benfica tenha sido por ele eliminado nos tempos áureos da equipa de Amesterdão. Foi Cruyff que mais terá contribuído para reinventar a inteligência ao serviço deste desporto.
Cruyff foi um revolucionário romântico. Às vezes, rebelde. Outras vezes, compassivo e poético. Mas sempre com um futebol perfumado. O holandês entendia-o como o palco para uma orquestra completa, disciplinada e, ao mesmo tempo, criadora e criativa.
"Jogar futebol é muito simples, mas jogar um futebol simples é a coisa mais difícil que há" resumia o génio holandês. Ou "o futebol é um desporto que se joga com o cérebro e não tanto com as pernas". Como li no El País, Cruyff foi o Garcia Márquez do futebol."
Bagão Félix, in A Bola
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