"Anda meio mundo a discutir a introdução das novas tecnologias no futebol e outro meio a tentar perceber o que se discute.
Não falta, nos tempos que vão correndo, quem levante a voz em defesa das novas tecnologias no futebol. Parece, porém, falar-se muito mas concretizar-se pouco. Hoje, é o presidente do Sporting que dá a ideia de ser o porta-estandarte dessa bandeira; mas não há muito tempo, também o presidente do Benfica chegou a juntar a sua voz na Assembleia da República na luta pela introdução das novas tecnologias no futebol a bem da verdade desportiva.
O assunto vem merecendo ampla discussão, e ainda bem, porque é preciso muito cuidado a tocar uma modalidade desportiva com mais de cem anos e um jogo tão apaixonante em todo o mundo.
O que não se tem visto é uma discussão tão esclarecedora como seria desejável tendo em conta exactamente a importância do jogo e das emoções que ele produz.
Sim, parece cada vez mais consensual a ideia de que é indispensável fazer alguma coisa no jogo de futebol para procurar que ele traduza no fim um resultado sobretudo mais verdadeiro.
Nesse sentido, a inclusão de sensores de baliza que determinem sem qualquer espécie de dúvida se a bola ultrapassou totalmente ou não a linha de golo parece-me, a mim e julgo que a todos, uma decisão absolutamente inquestionável.
Não será admissível, na verdade, que possa depender do olho de um qualquer árbitro (o de campo, o de linha ou o auxiliar) as decisão de validar ou não um golo, sendo o golo o objectivo final do jogo e, portanto, o seu factor primordial. É muito difícil tolerar que um clube gaste milhões de euros numa equipa e possa vê-la sujeitar-se à anulação de um golo marcado de forma clara e limpa num qualquer jogo de futebol, ainda mais, evidentemente, num jogo da importância financeira e desportiva como tem qualquer jogo das competições continentais ou mundiais de clubes ou selecções.
Simplificando, já é tempo de validar ou não um golo com a certeza absoluta porque há na realidade meios que o permitem. O golo é a essência do futebol; não pode nem deve suscitar dúvidas!
Bem diferentes me parecem, porém, os ângulos da discussão sobre a já famosa necessidade de se recorrer ao videoárbitro, por se falar muito sobre o assunto mas continua a perceber-se pouco o que se ouve. Na teoria, é simples mas na prática, a questão não deixa de ser relativamente complexa.
Imaginemos que nas mais importantes competições cada jogo passaria a dispor de um videoárbitro. E quem ele pode recorrer?, apenas o árbitro ou também os treinadores de cada uma das equipas?
E se os treinadores também puderem, poderão recorrer quantas vezes? Entre duas e quatro vezes por jogo? E o árbitro também? Decide-se se o podem fazer duas, três ou quatro vezes por partida e está resolvido o problema? Será assim? E em que circunstâncias pode recorrer-se ao videoárbitro? Só em lances dentro da grande área? Que possam traduzir-se em castigos máximos? E só se o jogo parar?
E se o jogo não parar?, poderá um treinador (ou um árbitro) ter, por exemplo, o poder de cortar um contra-ataque de um adversário para analisar um lance duvidoso? E se não tiver razão? Já penalizou a equipa contrária, será que passa igualmente a ser também penalizado? Em que medida?
Mas será que deve o árbitro ter recurso ilimitado ao videoárbitro? Em qualquer circunstância? Parando o jogo sempre que o quiser? E vai o futebol continuar a ser futebol?
Há ainda uma outra questão - porventura a mais complexa de todas - que parecem querer ignorar todos os que têm vindo a defender de forma mais firme o já vulgarizado tema das novas tecnologias no futebol: a questão da interpretação.
Que sirva de exemplo o lance que no último domingo se verificou no jogo Arouca-Sporting, quando o brasileiro da equipa da casa, Adilson, se envolveu num choque com o brasileiro da equipa leonina Naldo, na grande área sportinguista.
Ponto de ordem à mesa: não houve, na minha opinião, razão para grande penalidade.
Como sempre em lances de natureza semelhante na grande área de uma das três equipas grandes ou do adversário que defrontam, o choque de Adilson em Naldo suscitou ampla controvérsia e também dividiu as opiniões. Ou seja, muitos olhos a verem e nenhuma decisão consensual. Para ti é grande penalidade mas para mim não é!
Nesse lance, o jogo parou porque a bola acabou por sair, se não estou em erro, pela linha de fundo, e portanto podemos imaginar com relativa facilidade que o árbitro recorreria ao videoárbitro; ou só o árbitro ou também os treinadores.
A que conclusão chegariam?
Como se decidiria?
O lance seria visionado colegialmente mas acabaria decidido apenas pelo árbitro?
E se o árbitro continuasse a decidir mal?
Esclareço a minha opinião sobre o lance referido: na televisão, admito realmente que fique a ideia de que Naldo, de forma esperta, usa o corpo, já em queda após escorregar, para tentar impedir que o adversário possa jogar a bola.
Mas ninguém pode afirmar tal intenção.
Além disso, nada nas regras do futebol impede que Naldo mergulhe naquele lance para tentar desviar a bola de cabeça, antecipando-se assim ao adversário que, vindo na direção oposta e com os olhos apenas na bola, não vê o opositor, choca e cai.
O problema é que se uns viram no lance razão para grande penalidade, outros tantos consideraram correta a decisão do árbitro de nenhuma falta assinalar.
Mesmo como videoárbitro... lá ficaríamos todos na mesma.
Em resumo, sim às novas tecnologias no futebol mas não se discuta no ar como fazê-lo. Já se pensou criar um grupo de trabalho para discutir o assunto a fundo - envolvendo árbitros, treinadores, jogadores, jornalistas, dirigentes... - e produzir um documento, contribuindo para um debate sério e não para a gritaria do costume? Pensemos nisso!"
João Bonzinho, in A Bola
PS: Quando um profissional da comunicação social desportiva, vem discutir a intencionalidade de um derrube - quando a única infracção no Futebol que obriga a uma avaliação da intencionalidade, são os lances de Mão na Bola -, estamos esclarecidos sobre a qualidade do dito profissional...!
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