"A obsessão pela posse de bola tomou conta do estilo de vários treinadores nos últimos anos, na tentativa vã de imitar o sucesso do Barcelona de Pep Guardiola, a equipa que conseguia aliar 75% de posse a goleadas de cinco, seis ou sete golos.
É, precisamente, na busca desse el dorado tático que todos os anos surgem equipas mais preocupadas com ter sempre a bola, mesmo que isso, muitas vezes, signifique andar longe da baliza. Conclusão? Jogos chatos, bola para o lado, para trás, da defesa para o meio-campo e novamente para o lado e para trás; muitas movimentações, pouca (ou nenhuma) eficácia.
Aconteceu, por exemplo, na época passada com o FC Porto de Lopetegui - num estilo (admita-se) melhorado este ano. E está a acontecer com o Chile de Jorge Sampaoli, cuja obsessão, mais notória em tempos recentes, pela posse de bola - não há conferência de imprensa na qual o seleccionador não se refira a ela - transformou a equipa sedutora, veloz e apaixonante que conquistou a Copa América numa sombra em câmara lenta de tudo isso na atual qualificação para o Mundial-2018. Os resultados estão à vista: derrota no Uruguai por 0-3, o pior resultado da era-Sampaoli, e uma ineficácia gritante apesar dos 71% de posse de bola (!)e dos 356 passes certos (contra 55 uruguaios), os avançados chilenos Sanchez e Vargas não remataram uma única vez à baliza!
No final, Sampaoli considerou a derrota «pesada» mas estava «feliz porque o objetivo da posse de bola foi cumprido». A resposta dos adeptos não se fez esperar e, nas redes sociais, logo se espalhou uma anedota com Sampaoli na primeira pessoa: «Uma noite, fui a um bar. Sentei-me ao balcão, ao lado de uma mulher lindíssima. Conversámos a noite toda, rimo-nos, trocámos olhares e piropos e paguei-lhe uns copos. Porém, por volta das cinco da manhã, chegou um tipo, piscou-lhe o olho e ambos saíram de braço dado. Mas não importa porque, nessa noite, quem possuiu a maior parte do seu tempo fui eu.» Pois..."
João Pimpim, in A Bola
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