"Chega-se a esta época do ano, o chamado defeso no futebol, e é sempre a mesma farsada: o Benfica, por ser verdadeiramente o único clube que faz vender papel de jornal, é todos os dias sujeito das mais aparatosas 'notícias' sobre compras e vendas, chegadas e partidas, contratações, roubos e desvios, jogadores na mira e empresários à coca. Já cheguei a ler, em letras garrafais, a 'notícia' da transferência de Ricardinho, da equipa de futsal para o plantel de futebol do Benfica. De maneira que quanto mais sencionalista é o pasquim mais fácil se lhe torna vender papel impresso com balelas, e esgotar edições, desde que o Benfica venha no título.
E as 'notícias' são, a maior parte das vezes, tudo menos o que lá está. São jogadas de empresários, para apresentar, promover ou subir os preços da 'mercadoria', que é assim que muitos deles encaram os profissionais da bola: objectos de compra e venda. São meras invencionices para vender papel - como a ridícula 'notícia' sobre o craque Ricardinho a passar para o relvado. São jogadas para denegrir dirigentes que não vão em cantigas - atribuindo-lhes intenções de compra sucessivamente falhadas, que, somadas, dão um rotundo 'fracasso'. São jogadas de clubes, associados ou não a empresários, para encarecerem aquisições de adversários. São, enfim, jogadas de especulação e da má-fé sem a mínima consideração pela dignidade de pessoas humanas com que os atletas merecem ser tratados.
Agora, em tempos de crise, a situação agudiza-se. E lá vem o nome do Benfica a servir como benemérito involuntário dos vendedores de papel impresso com tretas, o que não é a mesma coisa que jornais."
João Paulo Guerra, in O Benfica
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