"Cumpriram-se recentemente 50 anos sobre a conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus, momento que constitui, provavelmente, o ponto mais alto de toda a nossa história centenária.
Os relatos da altura recordam uma equipa com excelentes executantes, mas, sobretudo, com uma elevada dose de humildade. Ainda não havia Eusébio, e só com uma mistura perfeita de qualidade técnica, humildade, e capacidade de sofrimento, foi possível suplantar o poderosíssimo Barcelona - já então recheado de estrelas de renome mundial, e considerado o grande favorito dessa final.
Se recuarmos um pouco mais no tempo, veremos outra equipa de combate a triunfar extramuros. Falo do conjunto benfiquista que, em 1950, venceu a Taça Latina (competição que alguns querem agora menosprezar), arrecadando o primeiro troféu internacional da história do futebol luso. Foi com arte, engenho, mas sobretudo com muita humildade, que um clube então ainda pouco conhecido além-fronteiras, se superiorizou na prova europeia mais importante da altura. Por cá, vivia-se em plena época de “violinos”. Eram eles os grandes e famosos. Nós… apenas os outsiders, os “pés rapados” que, com arreganho, trabalho e luta, os conseguiríamos suplantar depois, tornando-nos então no maior e mais popular clube português.
A humildade está pois na génese dos nossos principais triunfos, e é parte integrante da matriz central da nossa identidade. Uma atitude humilde e lutadora, acompanhou sempre o crescimento do nosso clube, desde os tempos da Farmácia Franco até ao topo do mundo.
Decorridos muitos anos, e muitas vitórias, nem sempre temos sabido relevar esse passado. Do alto de uma gloriosa saga europeia, do alto dos muitos títulos nacionais, do elevadíssimo número de associados, e de um incomparável mediatismo, permitimos que o Benfica se tornasse, por vezes, um clube altivo e sobranceiro. E essa é, hoje, uma das nossas principais fraquezas.
Tenho abordado aqui, ao longo das últimas semanas, aspectos que, no meu modesto entendimento (e enquanto mero adepto de bancada), podem contribuir para que as próximas temporadas do futebol encarnado sejam substancialmente mais felizes do que aquela que terminou. Depois de falar da força física, e da força mental, creio que a humildade (a todos os níveis) deve também figurar no elenco.
O Benfica é o clube mais odiado do país. Não o é apenas nos recintos dos nossos principais rivais (FC Porto e Sporting, que competem entre si para ver quem mais nos detesta), mas também em quase todos os estádios que visita, seja em Braga, em Guimarães, em Setúbal, em Olhão ou em Leiria. Tratando-se de um clube que apenas foi campeão duas vezes nos últimos 18 anos, esta não é uma situação comum, sobretudo havendo quem tenha ganho muito mais títulos durante esse período, e não seja objecto da mesma antipatia. Haverá razões que se prendem com o mediatismo que sempre nos acompanha, mas muitos dos adeptos desses clubes são peremptórios quando nos acusam de arrogância, soberba, mania das grandezas, e outros epítetos similares. Independentemente das razões que os possam assistir, esta é uma situação que temos de saber reverter, e creio que um discurso de maior modéstia poderia ajudar bastante.
A paixão pelo futebol, e por um clube, não é coisa que se explique nas cátedras da racionalidade. É difícil exigir do adepto comum uma postura de total realismo e objectividade. Mas não há forma de encarnar a humildade de que necessitamos se não tivermos (todos) uma noção real daquilo que hoje somos, e daquilo que efectivamente valemos. O passado não ganha jogos, e o Benfica da actualidade, para crescer, não pode viver sentado à porta do seu extenso e cintilante salão de troféus. Há que perceber que, em termos futebolísticos (e é disso que aqui se fala), perdemos claramente a hegemonia interna, e que ninguém vai ficar parado à espera que – por direito divino - a reconquistemos. Há que perceber também que, no plano externo, não somos mais que um clube mediano, numa Europa onde outros têm conseguido, ainda assim, brilhar. Só partindo desta cristalina realidade, encontraremos a estrada que nos pode levar ao futuro de glórias que o nosso passado fez por merecer.
A humildade tem de começar em cada um de nós, benfiquistas, e estender-se até profissionais e dirigentes. Não podemos afirmar, no início de cada época, que vamos ganhar este mundo e o outro. Não podemos pensar que, só porque nos chamamos Benfica, a cada conquista corresponderá necessariamente um ciclo esmagador, como se os adversários não existissem. Não poderemos entrar em (nenhum) campo, convencidos de que as camisolas chegam para impor os resultados que desejamos, até porque somos aquele a quem todos querem ganhar.
A humildade tem de estar no discurso, e tem de estar na acção (de dirigentes, técnicos, jogadores e adeptos). É um fato que todos temos de vestir, e sem o qual não estaremos em condições de alguma vez fazer reviver as sagas vitoriosas que os primeiros parágrafos deste texto recordam. Sem humildade, não conseguiremos sequer beliscar a supremacia daqueles que, a bem ou a mal, tomaram o nosso lugar."
Os relatos da altura recordam uma equipa com excelentes executantes, mas, sobretudo, com uma elevada dose de humildade. Ainda não havia Eusébio, e só com uma mistura perfeita de qualidade técnica, humildade, e capacidade de sofrimento, foi possível suplantar o poderosíssimo Barcelona - já então recheado de estrelas de renome mundial, e considerado o grande favorito dessa final.
Se recuarmos um pouco mais no tempo, veremos outra equipa de combate a triunfar extramuros. Falo do conjunto benfiquista que, em 1950, venceu a Taça Latina (competição que alguns querem agora menosprezar), arrecadando o primeiro troféu internacional da história do futebol luso. Foi com arte, engenho, mas sobretudo com muita humildade, que um clube então ainda pouco conhecido além-fronteiras, se superiorizou na prova europeia mais importante da altura. Por cá, vivia-se em plena época de “violinos”. Eram eles os grandes e famosos. Nós… apenas os outsiders, os “pés rapados” que, com arreganho, trabalho e luta, os conseguiríamos suplantar depois, tornando-nos então no maior e mais popular clube português.
A humildade está pois na génese dos nossos principais triunfos, e é parte integrante da matriz central da nossa identidade. Uma atitude humilde e lutadora, acompanhou sempre o crescimento do nosso clube, desde os tempos da Farmácia Franco até ao topo do mundo.
Decorridos muitos anos, e muitas vitórias, nem sempre temos sabido relevar esse passado. Do alto de uma gloriosa saga europeia, do alto dos muitos títulos nacionais, do elevadíssimo número de associados, e de um incomparável mediatismo, permitimos que o Benfica se tornasse, por vezes, um clube altivo e sobranceiro. E essa é, hoje, uma das nossas principais fraquezas.
Tenho abordado aqui, ao longo das últimas semanas, aspectos que, no meu modesto entendimento (e enquanto mero adepto de bancada), podem contribuir para que as próximas temporadas do futebol encarnado sejam substancialmente mais felizes do que aquela que terminou. Depois de falar da força física, e da força mental, creio que a humildade (a todos os níveis) deve também figurar no elenco.
O Benfica é o clube mais odiado do país. Não o é apenas nos recintos dos nossos principais rivais (FC Porto e Sporting, que competem entre si para ver quem mais nos detesta), mas também em quase todos os estádios que visita, seja em Braga, em Guimarães, em Setúbal, em Olhão ou em Leiria. Tratando-se de um clube que apenas foi campeão duas vezes nos últimos 18 anos, esta não é uma situação comum, sobretudo havendo quem tenha ganho muito mais títulos durante esse período, e não seja objecto da mesma antipatia. Haverá razões que se prendem com o mediatismo que sempre nos acompanha, mas muitos dos adeptos desses clubes são peremptórios quando nos acusam de arrogância, soberba, mania das grandezas, e outros epítetos similares. Independentemente das razões que os possam assistir, esta é uma situação que temos de saber reverter, e creio que um discurso de maior modéstia poderia ajudar bastante.
A paixão pelo futebol, e por um clube, não é coisa que se explique nas cátedras da racionalidade. É difícil exigir do adepto comum uma postura de total realismo e objectividade. Mas não há forma de encarnar a humildade de que necessitamos se não tivermos (todos) uma noção real daquilo que hoje somos, e daquilo que efectivamente valemos. O passado não ganha jogos, e o Benfica da actualidade, para crescer, não pode viver sentado à porta do seu extenso e cintilante salão de troféus. Há que perceber que, em termos futebolísticos (e é disso que aqui se fala), perdemos claramente a hegemonia interna, e que ninguém vai ficar parado à espera que – por direito divino - a reconquistemos. Há que perceber também que, no plano externo, não somos mais que um clube mediano, numa Europa onde outros têm conseguido, ainda assim, brilhar. Só partindo desta cristalina realidade, encontraremos a estrada que nos pode levar ao futuro de glórias que o nosso passado fez por merecer.
A humildade tem de começar em cada um de nós, benfiquistas, e estender-se até profissionais e dirigentes. Não podemos afirmar, no início de cada época, que vamos ganhar este mundo e o outro. Não podemos pensar que, só porque nos chamamos Benfica, a cada conquista corresponderá necessariamente um ciclo esmagador, como se os adversários não existissem. Não poderemos entrar em (nenhum) campo, convencidos de que as camisolas chegam para impor os resultados que desejamos, até porque somos aquele a quem todos querem ganhar.
A humildade tem de estar no discurso, e tem de estar na acção (de dirigentes, técnicos, jogadores e adeptos). É um fato que todos temos de vestir, e sem o qual não estaremos em condições de alguma vez fazer reviver as sagas vitoriosas que os primeiros parágrafos deste texto recordam. Sem humildade, não conseguiremos sequer beliscar a supremacia daqueles que, a bem ou a mal, tomaram o nosso lugar."
Luís Fialho, in O Benfica
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