"No mês em que as nossas navegadoras representam o país no Europeu de Futebol Feminino, não poderia deixar de escolher este tema para destacar: a nutrição no futebol feminino.
Embora a maioria dos artigos científicos sobre nutrição no futebol ainda se concentre no contexto masculino, temos assistido a um crescimento significativo da investigação dedicada ao futebol feminino. A UEFA, entre outras entidades, tem vindo a desenvolver iniciativas importantes para promover o conhecimento e a prática nutricional adaptada às necessidades das atletas (1).
O futebol feminino apresenta particularidades que merecem atenção. Para além das diferenças fisiológicas naturais, como a composição corporal, o ciclo menstrual e a menor densidade energética da dieta habitual, também o contexto em que muitas atletas vivem — com treinos fora do horário laboral ou em estruturas menos profissionalizadas — influencia diretamente os seus hábitos alimentares e o acesso a apoio especializado e individualizado (2).
A nutrição adequada é uma aliada fundamental na prevenção de lesões, na otimização da recuperação e no desempenho físico e cognitivo. Para isso, é essencial garantir um aporte energético suficiente e uma boa distribuição de macronutrientes ao longo do dia, ajustada às exigências dos treinos e dos jogos. Além disso, fatores como a hidratação, o suporte de micronutrientes como ferro e vitamina D, e o impacto do ciclo menstrual no apetite, digestão e tolerância gastrointestinal devem ser considerados na prática clínica com futebolistas femininas (3), (4).
Um dos temas que merece especial atenção quando falamos em futebol feminino é a REDs (Relative Energy Deficiency in Sport). Esta condição ocorre quando a atleta consome menos energia do que aquela que gasta, deixando o organismo sem combustível suficiente para manter funções essenciais como a saúde hormonal, óssea, imunitária e até cognitiva. No futebol feminino, onde as exigências físicas são elevadas e muitas atletas conciliam treinos com estudo ou trabalho, a REDs pode surgir de forma não intencional. Os sinais podem incluir irregularidades menstruais, fadiga persistente, maior risco de lesões, alterações de humor e quebras de rendimento. Por isso, é fundamental garantir uma ingestão energética adequada e individualizada, respeitando não só as necessidades do treino, mas também o contexto de vida da atleta (5).
É urgente continuar a investir no conhecimento científico, mas também na aplicação prática deste saber junto das atletas, dos clubes e das equipas técnicas. Cada jogadora é única, e o papel da nutrição é precisamente esse: respeitar a individualidade de cada atleta e ajudar cada uma a estar no seu melhor, dentro e fora de campo."

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