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quarta-feira, 2 de julho de 2025

E se corre bem no Europeu?


"A Carolina e a Francisca tinham nove anos quando Portugal participou na primeira fase final de uma grande competição feminina e acredito que espreitaram os jogos na televisão.
Nascidas em 2008, pertencem à primeira geração para quem ver jogadoras portuguesas num Euro é exatamente igual a ver jogadores portugueses num Euro. Com exceção do Mundial-2019, a Seleção Nacional esteve sempre presente nas fases finais: 2017 (Países Baixos), 2022 (Inglaterra), 2023 (Nova Zelândia) e agora 2025 (Suíça).
Em 2017, a Francisca fizera uma época no AMCH Ringe, o clube onde começou Vitinha. A Carolina iniciou a prática do futebol no ano seguinte, também num emblema da Associação de Futebol do Porto, o SC Vilar Pinheiro.
Além da idade, do gosto pelo futebol e das memórias das grandes competições da Seleção Nacional, a Carolina Tristão e a Francisca Castro têm mais em comum: foram colegas no SC Braga em 2023/2024, vestem a camisola das seleções de formação e estiveram juntas em duas fases finais. Na época passada pelas sub-17, na Suécia, há uns dias pelas sub-19, na Polónia.
Aos 16 anos, as internacionais Fátima Pinto e Andreia Norton também estavam a chegar às seleções jovens, mas no caso delas só podiam competir nas sub-19. Em 2012 apenas existia essa equipa de formação. Com a mesma idade, a Carolina e a Francisca participaram em mais de 30 partidas cada uma e começaram nas sub-15.
Para criar memórias mais cedo, o percurso internacional das raparigas é semelhante ao dos rapazes. Treinam-se nos mesmos relvados da Cidade do Futebol, quando é possível estagiam na Casa dos Atletas. Tudo igual. Sem surpresa, começam a aparecer resultados do investimento.

Empréstimos são incentivados
Quando a Carolina e a Francisca chegaram aos clubes só havia em Portugal cerca de 9 mil federadas, em 652 equipas, dois terços das quais de formação. Hoje são mais de 20 mil, incluindo o futsal.
Parece bom, mas é curto se comparado com países europeus que descobriram mais cedo o futebol feminino.
O baixo número de federadas tem limitado a construção de competições nacionais adequadas na formação. As raparigas jogam com rapazes, depois em taças nacionais e torneios interassociações. Há vários anos que a FPF comparticipa treinos pelo país e a Festa do Futebol Feminino estimula a relação entre clubes e escolas
As jogadoras mais dotadas sobem cedo ao escalão sénior e competem pelas equipas B na II Divisão ou espalhadas pela III Divisão, no clube da sua terra.
Os quadros competitivos receberam sucessivas afinações na última década, assim como as regras. Os empréstimos são incentivados, as mais novas devem jogar. Carolina Santiago foi do Sporting para o Valadares, aos 18 anos, e tornou-se uma das figuras da Liga BPI e da seleção que atingiu as meias-finais no Euro sub-19.
A imposição de limites de inscrição por plantel obriga a optar. Carolina Correia saiu do Benfica onde jogava pouco, afirmou-se no Torreense, ganhou a Taça de Portugal e foi escolhida por Francisco Neto para o Europeu na Suíça.

Liga BPI com 10 equipas
Em 2024/2025, uma equipa terminou a Liga BPI sem pontos e outra, pelo que é público, não conseguiu o licenciamento. A alteração de formato decidida em março de 2024 foi acertada. Com dez clubes teremos maior competitividade e quase total profissionalismo das jogadoras.
A FPF tem investido cerca de quatro milhões de euros por época para tentar nivelar o que é desequilibrado à partida. O crescimento de Torreense, Valadares e Marítimo parece dar razão à aposta.
Se se confirmar a manutenção do Famalicão, a Liga BPI terá oito clubes que também estão nas competições profissionais masculinas: Benfica, Sporting, SC Braga, V. Guimarães, Famalicão, Rio Ave, Torreense e Marítimo. As exceções serão o histórico Valadares, uma potência na formação feminina, e o Racing Power, clube apenas com equipas femininas.
O calendário foi construído de forma a garantir o número mínimo de jogos indispensável ao crescimento das jogadoras — reforçando a Taça da Liga — e ao mesmo tempo preservar as que competem nas seleções e provas europeias.

Melhorar o produto
Na segunda divisão, pela última vez com 16 equipas (serão 12 em 2026/2027), entrarão o FC Porto e as equipas B de Benfica, Sporting e SC Braga. Aliás, é bem provável que Carolina e Francisca se reencontrem. Estrearam-se este ano nas equipas secundárias, na próxima temporada serão apostas certas. Das colegas que estiveram na Seleção sub-19, oito já têm minutos na Liga BPI.
Pela primeira vez haverá em Portugal uma terceira divisão com 12 equipas e um quarto escalão aberto.
A qualidade de jogo subiu, compete-se em relva e existe VAR. As condições para as jogadoras são hoje muito melhores do que há cinco ou dez épocas. As equipas técnicas e staffs cresceram. Mas o acesso aos estádios principais é escasso, os jogos são nas academias ou longe de casa. O exemplo do Sporting de Braga, que seguiu a tendência europeia de construir um segundo estádio para o feminino, é para já único em Portugal.
Jogada em estádios pequenos, com pouco público e transmissões modestas, a Liga BPI precisa de crescer mais depressa agora que encontrou o número certo de clubes.
O ciclo é conhecido, tem sido trabalho diário de muitos: melhorar o produto, conseguir mais espectadores e fãs, conquistar outros patrocinadores relevantes, logo obter receitas que permitam investir mais.
Ao contrário do que sucede com os homens, os direitos estão centralizados na FPF, o que poderá permitir, a curto prazo, a comercialização embora não seja de esperar um valor que vire o tabuleiro."

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