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quarta-feira, 2 de julho de 2025

O golo que tardou a surgir


"Nené revelou enorme paciência e confiança ao longo da sua carreira, o que foi fundamental para o seu sucesso

Quanto mais novos somos, menos paciência temos. Durante a juventude, quer-se tudo o mais rapidamente possível. Com os anos, vamos aprimorando a paciência. Diz-se que é uma virtude, porque a sua ausência pode levar à frustração. No futebol de formação, é transmitido aos jogadores que a sua evolução é particular, pois as comparações podem levar à descrença nas suas capacidades.
Nené, aos 17 anos, revelava já enorme paciência. Em fevereiro de 1967, ingressou no Benfica e, ao contrário da maioria, não demonstrou pressa em estrear- -se pela equipa de honra: “Tenho idade de júnior e devo jogar dois anos nessa categoria. Ainda bem que vim cedo para me poder ambientar à nova vida, antes de ser chamado a maiores responsabilidades.”
Mesmo nessa categoria, teve de aguardar alguns meses para realizar a sua primeira partida oficial pelos encarnados. “Interrompido há várias semanas, devido a inquéritos e recursos apresentados por vários clubes concorrentes”, o Campeonato Nacional de Juniores regressou apenas em 11 de junho. Nené não esmoreceu e preparou-se para esse momento. Frente ao Olhanense, o avançado encantou: “Alto e bem ginasticado, com um pé direito que operou ontem, claro, maravilhas, em dribles com simulação do corpo, se progredir poderá ser um caso muito sério dentro de pouco tempo.” A sua exibição foi coroada com um golo, que fixou o triunfo em 3-0.
Na temporada seguinte, foi um dos elementos-chave para a conquista do Campeonato Nacional júnior. Na final, frente à Académica, quando as equipas ainda se encontravam empatadas a zero, construiu um lance de enorme maturidade e, “com uma calma impressionante, marcou o primeiro golo” do encontro, embalando a equipa rumo à vitória por 2-0.
As suas prestações proporcionaram que se estreasse pela equipa de honra dos encarnados no início da época 1968/69. No entanto, ainda não estava estabelecido nessa categoria, alternando entre participações em juniores, reservas e honra, situação que se manteve na temporada seguinte.
Na época 1970/71, foi promovido definitivamente à equipa de honra, ganhando um lugar no onze benfiquista e tornando-se cada vez mais influente no processo ofensivo dos encarnados. No entanto, os avançados vivem dos golos, sendo apontado muitas vezes o número de tentos que marcam para medir a sua qualidade. Tinham-se passado dois anos, e Nené continuava sem ter marcado nenhum golo em jogos oficiais no principal escalão.
Apesar de a pressão ir aumentando, o avançado permanecia paciente e convicto de que o seu momento ia chegar. Em 31 de outubro, frente ao Tirsense, Nené foi um dos jogadores que mais se destacaram, “o grande impulsionador do ataque benfiquista, usando a rapidez de movimentos, sempre em jogo e pondo em jogo os companheiros com cruzamentos e aberturas das quais resultaram golos”. A goleada por 7-0 teve intervenção direta do avançado, ao contribuir com o seu primeiro golo, o terceiro da equipa. O jejum estava quebrado!
Saiba mais sobre este magnífico jogador na área 23 – Inesquecíveis, do Museu Benfica – Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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