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sábado, 12 de agosto de 2023

É preciso ter talento humano para um árbitro gerir jogadoras e técnicos alterados numa partida como a Supertaça. E o erro acontecerá sempre


"A Supertaça Cândido de Oliveira de quarta-feira foi bem elucidativa sobre a dificuldade que é arbitrar alguns jogos de futebol em Portugal.
Sem prejuízo da responsabilidade que pode ser imputada à própria equipa de arbitragem - por força da estratégia que adotou ou da forma como optou por conduzir a partida -, a verdade é que a forma como se joga e treina por cá é sempre muito acalorada, como se cada jogo não fosse um jogo em si, mas uma batalha, onde não existem rivais nem adversários. Apenas inimigos, alvos a abater. É a vitória do espírito de guerrilha sobre o espírito desportivo.
Isso acontece porque a forma como se pensa, vive e respira futebol em Portugal é distorcida.
Como se não bastasse essa cultura desportiva inquietante, jogadores e técnicos são muitas vezes pressionados a ultrapassar limites, porque só assim podem tentar defender o seu lugar, os seus contratos de trabalho. Alguns acabam por mesmo por ultrapassar o que se espera de profissionais de topo, incorrendo em atitudes que em nada os dignifica. É certo que vários são, diga-se de passagem, donos de personalidades difíceis, algo que se reflete na forma como se posicionam em campo e perante os outros. Há também aqueles que colocam ímpeto a mais no que fazem, porque pretendem provar algo a si próprios ou apenas mostrar serviço a quem paga.
Depois, claro, vem tudo o resto: a rivalidade histórica entre equipas, a autoestima de cada um, a importância do que está em disputa a dado momento, a montra, o retorno financeiro, etc., etc.
Com uma receita assim, geralmente temperada com mediatismo exacerbado e escrutínio desmedido, percebe-se que o cozinhado raramente saia bem ao cozinheiro, por muito bom que o ‘chefe’ seja.
Nada disto pode desculpar uma arbitragem que seja técnica ou disciplinarmente menos conseguida. Os árbitros de topo devem estar preparados para lidar com todo o tipo de pressão e sabem que jogos assim raramente são autênticas missas. Um critério demasiado restritivo ou uma atitude excessivamente branda podem, por exemplo, potenciar demasiada enervação ou fisicalidade, fazendo com o que a bomba que tanto procuram conter acabe por rebentar nas próprias mãos.
Mas é importante ressalvar de novo que arbitrar num contexto destes é, além de muito complicado, um teste à inteligência emocional. É preciso ter talento humano e pessoal para gerir atletas e técnicos alterados, porque jogos destes geralmente decidem títulos e são quase sempre disputados em estádios cheios, com ambiente tenso. Só árbitros qualificados e experientes conseguem lidar com variáveis deste calibre, tão exigentes.
Ainda assim, o erro acontecerá sempre. Ele anda aí e espreita a toda a hora, até porque a visão que os juizes têm em em campo, a sua perspetiva in loco, nunca é a mesma que todos temos cá fora, a ver o mesmo lance através das imagens. E até o VAR, cada vez mais imprescindível no processo de decisão, nem sempre tem liberdade para intervir. Nem sempre pode ajudar a acertar.
A situação que é clara na televisão pode passar despercebida dentro das quatro linhas, porque não é percecionada da mesma forma. Lá dentro, é tudo tão rápido e fugaz, que o olho humano não tem tempo para detetar. Além disso, se o posicionamento não for o ideal, se o ângulo de análise for mau, se um qualquer jogador atravessa na hora errada ou se a mão limpar o suor que escorre da testa, não há nada a fazer, não há volta a dar. A decisão pode não ser a melhor. O Benfica ganhou a Supertaça ao FC Porto.
Para que jogos desta natureza corram bem, é necessário que todos colaborem. É necessário que tenham uma espécie de compromisso tácito entre si. É necessário que ninguém sabote o trabalho de ninguém, que todos foquem na sua área de ação e na sua missão, que todos respeitem as variáveis que não controlam (mesmo que discordem).
Os árbitros devem continuar a treinar para serem melhores na abordagem, critério e forma como conduzem os seus jogos. Os jogadores devem preocupar-se em jogar futebol, marcar golos e ganhar jogos. Os treinadores devem saber que o seu papel é dirigir a equipa e levá-la ao sucesso, respeitando o papel de todas as pessoas que estão lá dentro.
Enquanto a emoção desculpar a falta de razão, não há mesmo muito a fazer.
É fundamental relembrar que os jogos de futebol são vistos por milhões de pessoas e que as estrelas que desfilam em campo são exemplo para muitas delas.
Vale a pena ter consciência disso, agora que as provas oficiais vão arrancar a sério."

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