Últimas indefectivações

sábado, 12 de agosto de 2023

O que é que eu quero ardentemente ver na nova época de futebol em Portugal


"Por exemplo, gostava de ver jogos de futebol bonito e alegre, com duas equipas à procura da vitória. Acho que não é pedir o mundo, mas sei lá. E duelos com mais tempo útil de jogo. O Mundial feminino deixou-me mal habituada. Anseio por jogos a horas decentes, daquelas em que ainda se vê o sol, que as operadoras de tv não mandem mais que os adeptos e que os clubes percebam finalmente quem os manterá vivos na eternidade.
Gostava que ninguém se engalfinhasse em palavras pobres e tristes e brejeiras por causa de uma arbitragem. Que treinadores, jogadores e delegados se abstivessem de tirar desforço de colegas, que não se usasse a velha arma do calimerismo para esconder o que se tem dentro de casa. Que não se simule, que não se agrida, que não se tente enganar. Para isso há outros espectáculos, muito menos decentes que um simples jogo de futebol. Que pouco ou nada se oiça falar de Conselho de Disciplina, TAD e quejandos, porque normalmente é mau sinal.
Apreciava que existisse equilíbrio, que se revelassem jovens futebolistas de qualidade, que não se retalhasse meio plantel no mercado de inverno porque “ainda somos muito pequenos”. Que os presidentes dos clubes aparecessem pouco nas notícias. Que os estádios estivessem cheios de gente, a usar as cores que quisessem, nos setores que lhes apetecesse, sem isso se revelar um problema de segurança ou de liquidez financeira para uma família. Rezo, logo eu que não sou crente, que as caixas de comentários das redes sociais deixem de ser ressonância de discurso de ódio, racista, machista, uma pouca vergonha sem nome e, pelos vistos, sem consequências.
Que não tenha de ver mais traseiras de autocarros, a sério, como eu estou farta de traseiras de autocarros, mas sim análises e comentários críticos, para que eu possa aprender mais sobre futebol quando ligo a televisão. Que o discurso de todos nós deixe de ser mesquinho, miserável, avarento, clubista, classista e passe a ser aberto, ousado, arrojado - e ser arrojado não é dizer tudo o que nos passa pela cabeça, por mais grotesco que seja.
Olhem, gostava de me divertir a ver futebol cá dentro, que o Benfica - FC Porto da próxima quarta-feira, da Supertaça, fosse um grande jogo de bola e que nos dias seguintes não se falasse de todas essas frases-feitas-ignorantes-sonsas sobre como somos sempre beneficiados e sobre como somos sempre prejudicados, toda a gente se diz eternamente prejudicada, desde os mais ancestrais primórdios do futebol que toda a gente é prejudicada até mais não e por isso, amigos, entendam-se, se calhar a realidade está algures no meio, mas isso só entra na cabeça de quem gosta de futebol, não de quem vive para um clube, como se esse clube não se estivesse marimbando para quem por ele sofre em demasia. Adorava que na quarta-feira à noite se falasse de uma grande exibição, de um golo fantástico, de uma estratégia audaciosa e que no fim de semana, quando arrancar a nova edição da I Liga, idem e ibidem.
Perdoem o desabafo, o desejo, tão possível quanto uma manada de unicórnios avançando à desfilada em cima de um arco-íris, mas é início de época e no início de época uma pessoa sonha. Que seja uma boa temporada para todos vós."

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