Últimas indefectivações

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Bancadolândia


"Somos milionários e não sabemos. Quantas e quantas vezes, o despertador sussurra, ou parece que grita, remove-os do leito onde, à pressa, embrulhamos três, quanto, cinco horas de sono para, depois, trôpegos, amarrotados e meio rezingões, jejuados ou não, irmos à vida e guiarmos os pequenos do nosso sangue na continua realização de sonhos, imensos para eles no desporto ou noutras actividades. Fazemos o que queremos, por quem, onde e quando queremos, livres, mas nem ajuizamos, simplesmente negligenciamos esse tesouro. Que luxo!
Somos milionários e não sabemos. A mais recente 'crise política' no Afeganistão, com severo impacto social, agitou consciências, desencadeou reflexões globais, provocou intervenções por todas as razões e consequências objectáveis. Coisa singela aos nossos olhos, jogar futebol, o desporto tão amado, é agora, para as raparigas afegãs, um sonho proibido. Por ele, em defesa de 'uma identidade' e pelo que 'adoram fazer', muitas fugiram das suas raízes, abandonaram uma vida, romperam abruptamente com um passado de ligações para, noutras latitudes democráticas abraçarem a esperança num presente e num futuro convergentes com os mais elementares direitos humanos e com os valores em que acreditam.
Somos milionários e não sabemos. Apesar de fundamental, o trabalho invisível é, todavia, o mesmo valorizado, seja em que meandro for, justamente pelo adjectivo ou pelo substantivo que o sinaliza. Não se vê, não é aplaudido, não colhe elogios. É assim. Mas há momentos que impõem que os pontapés de bicicleta de índole social rompam os mantos de discrição e deem corpo a noticias com eco. 'Sempre disponível para todos', tal como sublinha o presidente executivo Carlos Moia, a Fundação Benfica, no âmbito do seu projecto Welcome troughh Football, auxilia refugiados, e foi nessa perspectiva que abriu portas e nos últimos dias recebeu jovens futebolistas afegãs nas instalações do Clube, nomeadamente no Estádio da Luz. Iluminar rostos enganados pelo destino, 'saber acolher, acompanhar e ajudar verdadeiramente quem precisa' - causas e missões deste cariz, pela sua nobreza e amplitude, não podem ser caladas."

João Sanches, in O Benfica

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