"Não será preciso ser o génio da lâmpada para perceber que os campeonatos não vão terminar e não haverá futebol tão cedo
Na semana em que morreu Albert Uderzo, o genial autor dos irredutíveis gauleses e da sua aldeia, fica a ideia de que também nós precisamos de uma poção mágica e de um competente druida como Panoramix que nos ajude a manter as nossas aldeias.
Nesta fase de nenhumas certezas, aqui escrevi na última semana que não haveria Jogos Olímpicos nas datas marcadas. Cumpriu-se o óbvio, houve bom senso. Não será preciso ser o génio da lâmpada para perceber que os campeonatos também não vão terminar e não haverá futebol tão cedo. Por muito que nos custe, a quem gosta tanto do jogo e da sua adrenalina, essa é a única solução razoável e sensata face a realidade que vivemos. Os tempos são difíceis e vão ser ainda muito piores. A consciência da realidade ajuda a enfrentá-la, de nada serve cognitivos deslizantes criarem mundos alternativos que não existem. Para neles viverem em fantasia. Não estamos em tempo de ficção e não haverá mais futebol esta época.
Pedro Martins, técnico do Olympiakos, disse, com sabedoria, mas foi pouco escutado, que mesmo depois de passar a pandemia as equipas precisam de algum tempo para regressar à competição. Este ano já não haverá condições para mais competições nacionais ou europeias. Não creio que haja condições sanitárias, nem grandes alterações de circunstâncias que permitam competições nas próximas 10 semanas.
A OPA do Benfica não foi por diante, as dúvidas levantadas pela CMVM e a alteração de circunstâncias justificam esta decisão. Embora, de acordo com a minha ideia de Benfica, seja sempre positivo sermos donos de nós próprios e termos o maior controlo possível sobre os nossos destinos, longe das negociatas de outros interesses e, por isso, quanto maior for o controlo sobre o nosso capital melhor. Reconheço que nestas condições foi a melhor situação. O Benfica fez bem em desistir da OPA. Acaba o ruído e isso é inestimável nesta fase. Não penso como Eça Queiroz n'A Correspondência de Fradique Mendes: «Todo o jornal destila intolerância (...) e cada manhã a multidão se envenena aos golos com esse veneno capcioso». Mas a verdade é que o ódio ao Benfica, as dúvidas legítimas ou a mera ignorância alimentavam diariamente ruído e histórias sem nexo que em nada beneficiavam o clube e o seu presidente. Nestas condições, assim é melhor para o Benfica.
Por fim, neste Portugal com muita gente a falar e menos gente a fazer, assistiu-se a críticas (de sportinguistas) a Frederico Varandas por este ser ter disponibilizado para servir o seu País, nas Forças Armadas como médico. Não sou do Sporting, mas, no seu critério,os anormais são os autores das críticas e não o presidente do rival que fez o que deve fazer um homem de bem nestas circunstâncias. Que fique com as críticas dos colegas de clube e com o elogio de um rival que aprecia gente decente."
Sílvio Cervan, in A Bola
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