"Enquanto durar esta coisa, podem contar, aqui neste cantinho, com resultados, entrevistas, escândalos de mais de três centímetros e um vasto noticiário sobre uma carrada de acontecimentos extraordinários que nunca acontecerem
No meu mundo não há aquela coisa. Em não havendo aquela coisa, está tudo como era suposto estar. E, por isso é urgente retomar, sem preconceitos, a discussão filosófica sobre os três centímetros que a linha do VAR considerou para anular um golo ao FC Porto no último jogo antes daquela coisa chegar. Contra quem foi o jogo? Já ninguém se lembra? É verdade. E é, pior ainda o desleixo. Não pode ser este abandono, este desalento esta apatia, esta rendição. Salutares e atentíssimos ao que se passa no futebol português é como nos devemos posicionar, por vício e consequente obrigação moral, ainda que nada se passe. No meu mundo, por exemplo, passa-se tudo como se nada de invulgar se passasse. Posso até adiantar que o Benfica está outra vez na liderança isolada do campeonato nacional. Foi canja. E muito graças ao Gabriel, que regressou em grande depois de uma paragem forçada de dois meses por causa de um vírus ocular. Um vírus ocular, puf... que brincadeira de crianças.
Era assim que os nossos jornais desportivos se deviam comportar perante a situação criada por aquela coisa. Inventando. Seguido escrupulosamente o calendário da Liga principal e inventando sem dó nem piedade os relatos, os resultados e as polémicas de todos os jogos, jornada a jornada. Só pode ser esta a receita. Eu, confesso, compraria o jornal que me garantisse numa primeira página pintada a vermelho que o meu clube já seguia na frente outra vez graças ao hat trick de Dyego Sousa no jogo de Portimão à extraordinária exibição de Odysseas Vlachodimos no jogo como Tondela e, muito principalmente, graças aos três penáltis falhados por Alex Telles nos três jogos do FC Porto vá lá saber-se contra quem. Sim, porque isto de falhar penáltis toda a todos.
Eu compro o jornal que me traga aquela grande entrevista com o Gabriel estampada em manchete. Gabriel celebrando a sua total recuperação e o seu extraordinário momento de forma. E também a sua proverbial humildade. 'Devo o hat trick ao nosso capitão', era o título em letras gordas. E, por baixo, em letras mais pequeninas, Gabriel explicava o porquê dessa divida: 'Foram três assistências milimétricas do André Almeida'. E,de novo por baixo, seguindo a mesma linha da paginação uma fotografiazinha no canto inferior direito da primeira página a ilustrar na perfeição a sintonia entre os dois jogadores André Almeida, ainda que estranhamente sem bigode, puxar de orelhas a um Dyego Sousa ainda estupefacto.
Resumidamente, enquanto houver aquela coisa podem contar comigo para o fornecimento semanal de resultados, de declarações sensacional, de escândalos de mais de três centímetros e de um vasto noticiário sobre uma carrada de acontecimentos extraordinários que nunca aconteceram. Tudo aqui, neste cantinho."
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