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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Romaria à Luz, pela luz

"A 'cerimónia das enxadadas' marcou o início das obras das torres de iluminação do Estádio da Luz, em 19 de Janeiro de 1958

A manhã estava fria e nebulosa naquele domingo de Janeiro, junto ao novo e completamente embandeirado Estádio da Luz. Eram muitos e sorridentes, os benfiquistas, e vinham com as golas erguidas até ao pescoço. A acompanhá-los, farnéis bem atestados para um dia que se adivinhava longo.
Foi António Adão quem dera a ideia, anos antes. Era, em tudo, muito semelhante à que, cinco anos antes, começara os trabalhos de construção do Estádio: iniciarem-se as obras com a enxada na mão, numa cerimónia simbólica 'do trabalho a favor do clube'!
Depois da fixação do Benfica num lugar só seu, faltava a possibilidade de se poderem realizar jogos, treinos e eventos nocturnos. Revelava-se, no fim, um projecto de 'indiscutível interesse económico' e também desportivo.
Eram nove da manhã quando se ouviu o primeiro foguete! A anteceder a cerimónia, jogaram os juniores para o Campeonato Distrital, vencendo o Sporting.
Assim que soou o meio-dia, vários foguetes e morteiros foram lançados como chamariz ao local onde as enxadas iriam ter lugar.
Quem quisesse pegar na enxada tinha de pagar uma quantia simbólica. O primeiro a fazê-lo foi o presidente da Assembleia Geral, Cancela Abreu, logo seguido pelo presidente Maurício Vieira de Brito, que passou a enxada a Manuel Balsinhas e a António Fezes Vital, os máximos responsáveis pela Comissão Central. No total, as enxadadas converteram-se em 9 contos de receita.
Ao mesmo tempo que se sucediam os cavadores, a multidão contava, em uníssimo, o número de enxadadas acompanhada pelas marchas da banda PSP.
Um sócio bastante doente pediu ajuda para ser levado ao carro até à enxada, para também participar. Não se ouviram aplausos, mas sim lágrimas de 'comoção' Magalhães Godinho expressou que estes actos aludem ao 'espírito de fraternidade clubista que une os adeptos do Benfica'.
Seguiu-se um almoço de confraternização. Aí deu-se um leilão que arrecadou mais 11 contos para a construção das torres. Até a bola do jogo na manhã foi leiloada!
As enxadadas terminaram às três da tarde, quando teve início um grande jogo, na categoria de honra, frente ao FC Porto.
Chegava ao fim, pelas palavras do presidente, uma 'situação anormal! Em contradição com o seu próprio nome, o Estádio da Luz não tinha luz!'. Mas teve-a menos de seis meses depois, e nunca mais parou de brilhar desde então.
Na área 17 - Chão Sagrado, no Museu Benfica - Cosme Damião, pode saber mais sobre estes emblemáticos momentos."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

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