"A transferência de João Félix para o Atlético de Madrid, que fez o Benfica arrecadar 120 milhões de Euros – um "mealheiro" irrecusável em qualquer parte do mundo –, fez vir ao de cima, na nossa mente, a linguagem habitualmente utilizada para designar essas operações financeiras.
Em nosso modesto entender – e cada vez estamos menos sozinhos – no plano desportivo aquela transferência tem tudo para correr mal, pelas razões sobejamente aduzidas por opinadores bem mais qualificados que nós.
Não o desejamos, antes pelo contrário: achamos que o sucesso do jovem jogador será o melhor que pode acontecer-lhe, não apenas a ele, mas também ao futebol português (prestígio) e à selecção nacional, que necessita de todos os sobredotados que estão a despontar e que serão a garantia de manutenção do alto nível após a inevitável despedida de Cristiano Ronaldo, que esperamos aconteça daqui a muito tempo.
Por isso achamos estranhas as posições assumidas por FC Porto e Sporting, que terão tentado inviabilizar a transferência junto do Atlético de Madrid. Pelo contrário, entendemos que a saída de João Félix, o fim da carreira de Jonas e a partida de outros valores seguros do plantel benfiquista deverão ser encarados pelos rivais como boas notícias já que, no plano desportivo, enfraquecem sobremaneira o actual campeão nacional.
Mas voltando à linguagem usada na imprensa escrita e por muitos comentadores ao falarem de transferências de jogadores.
Achamos de muito mau gosto a utilização de expressões como "o clube A vendeu o jogador K", ou "o clube B comprou o jogador Z" por N milhões de euros. De facto, desde os tempos da escravatura que não se transaccionam seres humanos como se fossem mercadoria, pelo menos nos países ditos civilizados.
Por isso, será de bom tom deixarem de ser utilizados os verbos comprar e vender – e vejo, com natural satisfação que eles são muito pouco utilizados em Record, pelo menos com esse sentido.
Poderá dizer-se ou escrever-se cedeu, recebeu, foi transferido por, foram vendidos os direitos desportivos ou quaisquer outras formas mais criativas de transmitir a mesma ideia, evitando o mercantilismo do Euro, completamente injustificável quando se refere a pessoas humanas, nomeadamente a jogadores de futebol."
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