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terça-feira, 31 de outubro de 2017

De olhos em bico

"China, Japão e Coreia do Sul: 21 dias de aventura, vitórias e boas memórias. Quer dizer... à excepção da comida.

No Verão de 1970, depois da digressão a Angola e a Moçambique, o Benfica rumou ao Extremo Oriente. Era a primeira vez que um clube de futebol da metrópole portuguesa viajava com tal destino. A expectativa era imensa!
Foi no dia 17 de Agosto que o Clube partiu à descoberta de Macau, Hong King, Kobe, Tóquio, Osaka e Seul, do seu futebol, das suas tradições e de, claro está, muitas peripécias. Outra coisa não seria de esperar de uma digressão dos 'encarnados'!
O primeiro percalço foi sentido ainda no voo de ida quando, ao sobrevoar a Tailândia, 'o avião levou fortes abanões atmosféricos'. Eusébio e Vítor Martins não conseguiram conter o susto, chegando mesmo 'a soltar gritos'.
Já com os pés bem assentes em solo asiático, os jogadores foram 'assaltados por um verdadeiro exército de caçadores de autógrafos'. Mas, de todos, Torres foi o que desfrutou 'de uma popularidade ainda maior'. A sua altura não passou despercebida no Extremo Oriente. Segundo o jornalista Aurélio Márcio: 'Mais alto ainda parecia rodeado por miúdos tão miúdos'. O facto de jogar 'de botas calçadas', enquanto os restantes jogavam 'de sapatilhas', também terá contribuído para essa fama em torno das suas dimensões. Ao que consta, as suas chuteiras ficaram danificadas na digressão a África e não foi possível substituí-las a tempo da viagem, 'é que o Torres anda perto dos 50 no calçado'.
Ao longo desses 21 dias aconteceu de tudo um pouco, até presenciaram um grupo de bailarinas a trocar de roupa, 'num ápice, num «strip-tease» inesperado' que deixou os olhos em bico os jogadores que se estavam nos camarins da da Expo'70 em Osaka. A experiência menos positiva terá sido mesmo a gastronomia local. 'Os jogadores não gostaram nada daquilo. Começaram a pedir pão e manteiga e vinho e acabaram mesmo por comer uns valentes bifes'.
No regresso, para além de muitas histórias para contar, a comitiva trouxe diversos objectos que ainda hoje se preservam no Departamento de Reserva, Conservação e Restauro. Entre eles, o galhardete entregue a Simões pelo capitão da selecção de Macau antes do primeiro desafio da digressão, no dia 20 de Agosto.
Muitos dos adeptos desconhecerão que foi igualmente desta viagem que veio a vénia que ainda hoje os jogadores do Benfica fazem, antes do início de cada jogo, em direcção às bancadas do Estádio da Luz. Citando Simões: 'Foi este malvado pequenino que trouxe a ideia dessa digressão'."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

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