"«Uma porta meio aberta é uma porta meio fechada, uma meia-mentira jamais será uma meia-verdade», escreveu Jean Cocteau.
A verdade dá trabalho, porque exige a consonância da sua essência com o carácter e a consciência. É uma prova de fundo, uma espécie de maratona. Exige coerência e memória. A mentira implica a imaginação do seu fabrico e é favorecida pela sofreguidão dos tempos, que rapidamente a fazem submergir nas trevas sem memória. A mentira é uma modalidade de velocidade rápida. Tanto que, não raro, se perde na pista.
A verdade existe por si. A mentira subsiste através dos seus feitores.
A mentira deixou de ser o contrário da verdade. Para isso, se veste ou traveste de muitas, sofisticadas e falsificadas formas: a tal meia-verdade, a omissão, o exagero, a dilação, o rumor, a contra-informação, a incoerência, a quimera, a ilusão, a insinuação, a manipulação, a descontextualização. Entre a verdade e a mentira, ou ainda - na agora em voga e pós-moderna perspectiva - entre a verdade e a pós-verdade, ouve-se, com inusitada frequência, o mais superlativo e reles instrumento de argumentação: o insulto. Ás vezes, acompanhado da magia de se dividir a verdade para multiplicar a mentira.
No futebol, há implantes imperadores da mentira global. Até muito apreciada (ou consentida) em certos ambientes e replicada por turbas. Por isso, se vem transformando numa nova especiaria comportamental.
Mas, como dizia o poeta Mário Quintana, «a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer?» por isso, é só uma questão de tempo, até se descobrir o dia em que o mentiroso compulsivo conseguir dizer uma... verdade!"
Bagão Félix, in A Bola
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