"Se o presidente leonino não tivesse recorrido à sua fonte principal de inspiração, o Benfica, provavelmente o discurso na assembleia encurtaria aí para metade...
A família benfiquista não desiste de pensar na conquista do tricampeonato, apesar de se olhar com reticências para o potencial do atual plantel. Registam-se ausências de peças fundamentais na construção do sucesso na última época (Maxi Pereira e Lima desertaram e Salvio só vai regressar em Fevereiro de 2016), além da mudança de rumo na política do futebol orientada a partir de agora, em linhas gerais, por gastos mais baixos e investimentos nos jovens valores da casa mais altos.
É este o caminho, não só o da águia, como o dos restantes emblemas, cada qual no seu universo e com a sua ambição. Os adeptos têm pressa e são exigentes e este processo de renovação precisa de tempo, ponderação e saber para dar frutos. O efeito do imediatismo dos resultados é terrível. Culpa dos presidentes dos clubes, os quais, na esmagadora maioria, só navegam à vista da costa, sem ideias nem rumo definido. Fazem promessas voláteis, que arrancam palmas e dão votos, mais nada. Erguem castelos de cartas que se esboroam ao primeiro sopro.
A excepção que confirma a regra chama-se FC Porto, que soube esperar, construir um projecto sólido com sentido de futuro e... recolher os dividendos desportivos, absolutamente espantosos.
O Benfica, renascido das cinzas, reergueu os alicerces necessários e suficientes para voltar a projectar a sua grandeza e recuperar o prestígio que foi perdendo no mundo, em consequência de gestões incompetentes e ruinosas.
O Sporting quer impor-se, pela dimensão que reconhecidamente possui e também por mais títulos no futebol, por forma a encurtar a desvantagem que o separa de benfiquistas e portistas. O problema reside, porém, no caminho e na estratégia: dizer mal de tudo e de todos e desdenhar o que se passa nas casas dos outros será um hábito bem português, embora se não se recomende em sociedade moderna e influenciada por gerações cada vez mais arejadas e indisponíveis para encenações canhestras e bafientas.
Li que, na assembleia geral de anteontem, o presidente leonino usou da palavra durante hora e meia, o que colide seguramente com as mais básicas técnicas de comunicação. Falar durante tanto tempo foi meio caminho para entediar a plateia, por mais interessante que fosse o conteúdo da mensagem, sendo certo que se o orador não tivesse recorrido à sua fonte principal de inspiração, o Benfica, provavelmente o discurso encurtaria aí para metade e os sócios ter-lhe-iam ficado agradecidos por duas ordens de razões: mais tempo para discutirem assuntos igualmente pertinentes e não serem massacrados com referências várias sobre o vizinho da Segunda Circular, tradutoras de uma tendência que começa a ser encarada como fraqueza de espírito que a associação vitamínica 'B+C' não supera, nem disfarça sequer, gerando o que se pode designar como 'complexo de Bruno'.
Aparte o longo monólogo interpretado pelo presidente nada de relevante aconteceu: das duas uma, ou a assembleia ficou encantada e esclarecida ou desejosa de se pôr a milhas, mesmo com temas importantes a ficarem guardados no baú das coisas inúteis. A ser verdadeira a segunda hipótese, revelou notável perspicácia táctica por parte de quem a arquitectou, na medida em que quanto mais prolongou a oralidade menos espaço sobrou para abordagem das questões que justificavam ser trazidas à colação, como a situação de Carrillo e o perigo de esboroamento do edifício futebolístico, mais uma vez com o Benfica a funcionar como paliativo eficaz para o resto da época.
Ou seja, no pior dos quadros, a Supertaça chega... Porque a Liga dos Campeões já se foi, a Liga Europa começou mal e não é prioritária e no Campeonato, em seis jornadas, já lá vão quatro pontos perdidos, dois em casa (Paços de Ferreira) e dois fora (Boavista): não está mal, mas podia estar melhor, não? Se a ideia foi eliminar estas e outras questões eventualmente incómodas, então o plano foi brilhante."
Fernando Guerra, in A Bola
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