"O lastro que adquiriu em carreira na arbitragem mundialmente reconhecida e admirada confere a Proença estabilidade bastante para arriscar desafios noutras áreas.
Felizmente para a imagem do futebol português, sobejou uma réstia de bom senso na assembleia geral da FPF, necessária para eliminar o ridículo que seria aprovar o sorteio dos árbitros, uma bizarria patrocinada por Pinto da Costa, que tolera mal a independência proclamada por Fernando Gomes enquanto presidente da Federação Portuguesa de Futebol, e por Bruno de Carvalho, que vê em Luís Duque um associado do emblema leão e como tal sujeito ao dever de obediência.
Para dar mais vida à festa, nada melhor do que a colaboração espontânea e surpreendente de Pedro Proença, o melhor árbitro português de todos os tempos, o qual, embora integrado na estrutura europeia da arbitragem, resolveu enveredar por ínvios percursos e com misteriosa pressa, motivando o rumorejar que de há muito anuncia uma relação de má vizinhança ente ele e Vítor Pereira, o que só vem provar que por detrás de um bom árbitro se esconde uma personalidade complexa.
Basta ler com o mínimo de atenção a entrevista ontem publicada em A BOLA, com a assinatura do jornalista António Casanova. As questões estão lá, as respostas também, algumas a navegar em reticências, sim, mas uma a esclarecer o que faltava. Afinal, como diz ter dito sempre, Proença é a favor das nomeações. Diluíram-se as dúvidas. Não todas, porém, na medida em que faltou explicar por que motivo, sendo ele defensor das nomeações, aceitou ser patrocinado por dois clubes que perseguem solução contrária. Também não precisa dar-se ao incómodo de entrar em pormenores. Como pessoa culta, experiente e inteligente que é, sabe que nesta área específica do futebol a chamada opinião pública é tolerante, distraída e, regra geral, de fraca influência. De aí a hábil estratégia de passar ao lado dos temas mais sensíveis na intenção de os empurrar para o esquecimento.
Foi isso o que voltou a fazer... Até aqui, com aparente sucesso, não sei se suficiente para lhe entregar a presidência da Liga nas eleições desta terça-feira, mas se não for agora, será na próxima. Basta querer. Chamem-lhe vaidade, desejo de poder, o que quiserem, mas o lastro que adquiriu em carreira na arbitragem mundialmente reconhecida e admirada, confere-lhe estabilidade bastante para arriscar desafios noutras áreas, provavelmente como dirigente de topo, com a certeza de que uma derrota hoje é o prenúncio de uma vitória amanhã. Afirmam-no a sua ambição, naturalmente, mais a sua juventude e a sua formação. Depende mais da vontade própria do que da pressão que terceiros queiram exercer, razão pela qual me parece ficar em vantagem se esperar: o tempo é seu aliado.
A FPF vai aproximar o modelo português de avaliação de árbitros daquele que se pratica na UEFA. Uma alteração cara, que vai custar 300 mil euros/ano, e que, objectivamente, nenhuma melhoria irá suscitar na qualidade das arbitragens. No essencial, procura trazer rigor às classificações, introduzindo elementos que vão salvaguardar os mais conceituados, leia-se os que ostentam as insígnias FIFA, de desagradáveis surpresas como a que se deparou a Marco Ferreira, de repente despromovido em consequência do seu (fraco) desempenho na temporada passada.
Ninguém seja ingénuo ao ponto de esperar a extinção de erros grosseiros ou o desaparecimento de lapsos com interferência nos resultados. Não é isso que está em causa. A medida visa apenas colocar alguma ordem na feira de vaidades que todos os anos, por esta altura, desemboca em gritaria provocada por diferenças de milésimas. No fundo, todos gostariam de continuar a intrometer-se no ordenamento classificativo ao longo da época, como terá sucedido durante anos e deu no que se sabe...
Aliás, logo no ano de transição do processo de classificações de árbitros da Liga para a Federação observou-se profunda mudança que explica quase tudo: em 2012, os cinco primeiros eram todos internacionais; em 2013, passaram a ser só três, aparecendo os restantes espalhados pelos 25 lugares, com Carlos Xistra em 19.º e Marco Ferreira em 20.º. Ora, não havendo prerrogativa especial para os internacionais, qual será o drama de preencherem os lugares menores da classificação? Nenhum. É por causa da vaidade. Depois há o perigo de o sistema colapsar e... revelar segredos que não convém que deixem de o ser."
Fernando Guerra, in A Bola
PS: Esta coisa de a meio de um raciocino qualquer, afirmar perontoriamente que o 'querido' Dr. Desdentado foi o melhor do mundo, e que é respeitado pelo universo e arredores, é daquelas coisas, que só a cegueira, ou a falta de coragem, podem explicar... O carneirismo militante é uma das principais razões, para o Tugão não sair da sarjeta...
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