Últimas indefectivações

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Cerco ao Benfica

Marco Ferreira ficou em último lugar na classificação final de árbitros de 2014/2015 e foi o Carmo e a Trindade, como se de repente tivesse passado pelo futebol português um fenómeno atmosférico de efeitos devastadores, quando, em concreto, apenas se verificou uma situação que de anormal nada apresenta: o árbitro madeirense, no somatório dos seus desempenhos, em determinado período, correspondente a uma época desportiva, foi o que obteve pontuação mais baixa. Surpreende por ser quem é, mas somente por isso, porque, no resto, as coisas mudaram quando os procedimentos de observação, avaliação e classificação de árbitros e árbitros assistentes das competições organizadas pela Liga passaram a reger-se pelo regulamento do Conselho de Arbitragem da FPF. Foi o primeiro passo para a democratização do setor, com o objetivo de o tornar mais justo e transparente, permitindo que todos os árbitros do quadro principal beneficiassem de idênticas oportunidades e eliminando qualquer tentativa de retirar do baú os arranjinhos e os tráficos de influências que desembocaram no Apito Dourado.
Desde o início, porém, o 'grupo de elite' olhou com preocupação para a mudança, antevendo o risco que corria, porque, como alguém alertou, até 2012, árbitro escolhido para internacional que não desalinhasse nem afrontasse o sistema assegurava a insígnia FIFA até à idade de reforma... Terá sido, aliás, para afrontar situações de comodismo dos mais conceituados e gerar boas expectativas entre os que querem impor-se, estabelecendo-se aqui interessante quadro de equilíbrio, que Vítor Pereira, pelo que julgo saber, aprova idênticos critérios de avaliação sem valorizar a intensidade do brilho dos galões de cada qual...

Questiona-se, então, a lógica de nomeação de Marco Ferreira para a final da Taça de Portugal. Desconheço-a, obviamente, mas deduzo que, depois de Carlos Xistra, 3.º na temporada transata, ter sido indicado para dirigir a final da Taça da Liga, com Proença aposentado e seguindo a mesma linha de raciocínio, o escolhido deveria ser, como foi, o 2. º classificado em 2013/2014, ignorando o nomeador, no entanto, o reflexo das más notas obtidas pelo árbitro madeirense na presente época, dado que, provavelmente com excesso de rigor, mas com base na apreciável intenção de eliminar favores, pedidos e compadrios, a FPF protegeu-se... ao proteger a classificação final de todo o tipo de intrusões.
Há quem alvitre, agora, um cenário de injustiça ao contrapor ao último lugar de Marco Ferreira o segundo de há um ano, de maneira a retirar credibilidade ao processo. Estratégia condenada ao fracasso, pela razão simples de o árbitro da AF Madeira, no seu historial, ser frequentador regular da parte inferior das tabelas classificativas: 19.º, em 2013; 13.º, em 2012; 11.º, em 2011; 17.º, em 2010; 17.º, em 2009; 16.º, em 2008...

O alarido em redor deste caso creio ser o pretexto que faltava para se instalar a confusão e promover o regresso a um esquema de interesses que não se recomenda. A arbitragem sempre lidou mal com a clareza, de aí que, por coincidência ou não, foi a partir do momento em que se injetou rigor na complexa ordenação classificativa dos árbitros desde 2012/2013, que o Benfica conseguiu traduzir em mais Campeonatos Nacionais conquistados a qualidade da sua organização. De aí o cerco que pretendem fazer-lhe os seus principais adversários. Primeiro foi Bruno de Carvalho, através das chamadas redes sociais, a falar de uma «herança das últimas épocas de gestão» e a sublinhar que, além do «desrespeito ser total» pelo clube a que preside, quando os árbitros erram «é sempre o mesmo que sofre»...
Depois, Pinto da Costa, de viva voz e em estilo mais eloquente, igualmente a privilegiar a arbitragem como tema do defeso, o que logo foi encarado como triunfal reentrada em cena, aparentemente suficiente para garantir um FC Porto mais pujante na época que se avizinha...
Os dois presidentes não se falam, mas sabem que existe um adversário comum que os tem superado e que precisam de eliminar: Benfica. Não são aliados de verdade, mas dá-lhes jeito investirem na mesma ladainha, porque a diplomacia tem uma linguagem própria, como ouvi um dia destes a quem se considera mestre no assunto... 

Fernando Guerra, in A Bola

2 comentários:

  1. Só com sorteio eles não se safam. Teriam mesmo de mandar a avaliação à fava porque só assim, árbitros como o Marco Ferreira podiam errar sempre contra os mesmos e sair impunes. O Jorge Sousa mudou e agora é um dos melhores. O Proença se calhar por temer a avaliação reformou-se...

    Após dois anos sem grandes erros nos clássicos e que eles querem mudança... O que querem não é verdade desportiva... O que querem é erros grosseiros a decidir campeonatos como aconteceu há poucos anos atrás

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mais um sinal de que os tempos estão a mudar.
      No passado bem recente eram as avaliações que faziam o ordem viciada.
      No presente existe uma outra ordem.

      <3

      Eliminar

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!