"Podia ser apenas uma qualificação para a final da Taça de Portugal. Só que aquilo que aconteceu no Estádio da Luz foi para lá disto. O Benfica eliminou um FC Porto que não teve a menor capacidade para reverter a seu favor o facto de ter jogado uma hora contra dez adversários. Os encarnados lideraram os acontecimentos, com mais ou com menos, e nem se perturbaram quando os dragões chegaram à igualdade. O Benfica marcou mais dois, ganhou muito bem, e teve em André Gomes o protagonista da noite.
A primeira meia hora do jogo indiciava que as águias estavam em condições de virar a desvantagem da primeira mão. Salvio tem a oportunidade inaugural, logo aos três minutos, seguiram-se seis (!) cantos consecutivos e o mesmo Salvio abre o marcador pouco depois. Uma entrada forte do Benfica, perante um FC Porto que tardava em enquadrar o seu meio campo, sem grandes soluções para controlar André Gomes e Enzo Perez. Mais Salvio e Gaitan, acrescente-se. Adivinhava-se que, pelo andar da carruagem, o segundo golo estava "predestinado".
A expulsão de Siqueira foi a componente que baralhou a sequência. Proença teve razão no segundo amarelo, da mesma forma que não teve no primeiro. Mas o facto é que o lateral encarnado não pode cometer a asneira de ir às pernas de um adversário quando já tem um amarelo no currículo. Podia ter começado aqui um problema sério (e desnecessário) para a sua equipa. Podia, mas não aconteceu e, chegados a este ponto, há o cruzamento de dois factores determinantes para se perceber o resto do jogo.
Antes do mais, o realce para a forma como o Benfica soube "compreender" o novo cenário. Jesus tirou Cardozo para colocar André Almeida no lugar do brasileiro e manteve uma estrutura que, mesmo com dez, mostrava ser capaz daquilo que era prioritário : negar espaços ao antagonista, o que lhe conferia alguma margem de segurança. A verdade é que, daí para a frente, apenas uma jogada individual de Varela conseguiu derrubar a barreira encarnada. E, no sentido inverso, o trabalho dos alas e a articulação dos dois homens do meio campo com Rodrigo (depois Lima) foram gerando situações de perigo para a baliza de Fabiano. Algo que, certamente, não estaria nos planos dos dragões.
O outro factor que cruza com aquele prende-se com uma inexistência estrutural do FC Porto. Sempre à espera que Quaresma tirasse um qualquer coelho da cartola, a equipa portista demonstrou não ter uma ideia sobre o que precisava fazer. Luis Castro mexia, mas não resolvia (Josué, Ghilas e Quintero pouco ou nada mudaram de fundamental). E, pela segunda vez, a jogar contra dez, os dragões tinham bola e não construíam um lance digno de registo. Em Sevilha sofreram um golo nestas condições, na Luz sofreram dois. Um vazio de soluções.
A diferença entre a classe individual e coletiva das duas equipas foi muito marcante. O Benfica tem jogadores com um índice criativo - e técnico, já agora - que o FC Porto não possui. O Benfica tem um conceito de jogo, o FC Porto, quase no fim da época, ainda anda à procura dele. E quando André Gomes, a grande surpresa no onze inicial de Jorge Jesus, assinou aquele terceiro golo fantástico, vincou-se uma realidade que é inquestionável : esta equipa é, de facto, a melhor a jogar em Portugal. A dada altura fez-nos esquecer que esteve em campo com menos um durante dois terços da partida.
Apenas uma referência para Pedro Proença. Não esteve numa noite recomendável, sobretudo pelos critérios disciplinares. Para lá da questão Siqueira - ou, se quiserem, a propósito dela - o árbitro, se aplicasse interpretações idênticas, teria de expulsar mais uns quantos de ambos os lados. Proença pensou que conseguiria controlar o jogo, mas, às tantas, já era o jogo que o controlava a ele. Não deixa de ser um ótimo árbitro (como recentemente se viu na Champions), simplesmente complicou(-se) sem necessidade.
A palavra final vai para o outro finalista. O Rio Ave chega a duas finais esta temporada e abriu as portas da Liga Europa. É a melhor época da história do clube de Vila do Conde e o nome de Nuno Espírito Santo está intimamente ligado a ela. Vai ser muito difícil conservá-lo. Além de quem há por aí quem precise de alguém como ele."
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