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terça-feira, 29 de novembro de 2011

'Derby' ao longe

"Foi uma semana brilhante que começou em Manchester com a evidência da mística benfiquista. E culminou com uma vitória suada, muito esforçada, tacticamente irrepreensível


1. No passado sábado, e pelo primeira vez nos últimos anos, não assisti, ao vivo, a um Benfica-Sporting. Foi um derby ao longe. Sei bem que é «na necessidade que se prova a amizade», e daí ter optado por viver o derby em plena cidade do Porto, na casa de um querido amigo sportinguista assumido, que celebrava o seu meio século de vida. Foi uma festa bonita e, para mim, foi uma festa a dobrar. Dei o abraço ao aniversariante e sorri, mal acabou o encontro, para os outros convivas, muitos deles com outras cores clubísticas. A amizade é um dos bens mais preciosos da nossa vida e não devemos, de forma alguma, ter dúvidas que um amigo é aquele que, no aperto e no perigo, nos dá a mão e nos fala do coração. Porque «quem deixa de ser amigo, não foi nunca» e « mais vale um amigo na praça que dinheiro na arca», na linguagem popular do nosso povo.

2. No relvado, foi um dos derbies mais disputados e mais equilibrados dos últimos anos. O Sporting mostrou que tem jogadores e equipa para lutar, em cada jogo, pela conquista dos três pontos. Mostrou ser uma equipa perigosa e ambiciosa. No sábado, na Luz, foi, acima de tudo - e, também, graças a Artur -, não eficaz. Perdeu os três pontos em disputa, mas Domingos Paciência tem todas as razões para confiar nos seus jogadores e sublinhar, perante todos, o trabalho que tem desenvolvido no Sporting. E alguns dos seus jogadores, pelo que se lê, estão a ser bem observados por alguns dos emblemas de referência da Europa do futebol.

3. O Benfica ganhou mais um derby e, mesmo à distância, ganhou-o numa ligação perfeita entre o relvado e as bancadas. Em muitos outros derbies que presenciei ao vivo, quer neste, quer no antigo Estádio da Luz, partilhei a simbiose que, no sábado passado, ajudou a mais uma vitória do Benfica. E sublinhando, desta vez, o perfume de Aimar, a força e a oportunidade de Javi Garcia e, necessariamente, a segurança, a que já nos habituou, de Artur. Foi uma semana brilhante que começou em Manchester com a evidência da mística benfiquista. E culminou, no sábado passado, com uma vitória suada, muito esforçada, tacticamente irrepreensível, principalmente a partir do momento em que João Capela resolveu expulsar Óscar Cardozo. Decerto por palavras, já que se foi apenas pelos gestos não haverá identidade e igualdade de deliberações em relação a outros jogos. E a equidade desportiva é um dos bens mais relevantes na ponderação objectiva do comportamento subjectivo das equipas de arbitragem.

4. (...)

5. O final do jogo da Luz e as chamas que irromperam de parte do novo terceiro anel não podem ser nem esquecidas, nem minimizadas. Não foi um caso nem fortuito, nem casual. É um acontecimento extremamente grave e que não pode ser ignorado quer pelas autoridades policiais, quer pelas instâncias disciplinares da Liga. Importa apurar as razões do incêndio, porventura utilizar todas as imagens disponíveis para delimitar os seus autores. Não está em causa o montante dos prejuízos. O que está em causa é que entraram no Estádio da Luz substâncias que permitiram que fosse desencadeado, conscientemente, um incêndio que só não teve proporções mais graves em razão de uma pronta e eficaz actuação dos bombeiros e do cumprimento efectivo, por parte do Benfica, dos mecanismos de prevenção a que está vinculado. Nesta sede, não pode haver manobras de diversão. O que aconteceu, para além de extremamente grave, é bem perturbante.

6. (...)

7. (...)"


Fernando Seara, in A Bola

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