"No original chamava-se «Shallow Grave». Qualquer coisa como campa pouco profunda, assim traduzido à pressa. Vem a propósito dos funerais que se ameaçam, semana após semana, lá para os lados do bairro sujo de D. Palhaço onde há tanta verdadeira ironia como vontade de rir. Campa rasa, sim, onde o morto-vivo se debate à espera de uma definitiva impaciência do polichinelo que, de tanto enganar os outros, também se engana, por vezes, a si próprio.
Dizem jornais sérios, de prosa curta, que o truão ordenou o dispersar da matilha e não viesse ainda morder os tornozelos ao pobre infeliz que se debate numa tumba de pouca terra. Estavam todos tristes no Calhabé: vencidos e vencedores.
E como era fanfarrão esse moribundo de funeral pré-marcado, orgulhoso da sua cadeira, convencido de uma capacidade que não era a sua. Ah! Pequenos crimes entre amigos também vem a propósito. Porque o cão d'água alaranjado que cavalgou os espinhaços de proenças e benquerenças para ganhar taças sem valor e sem mérito, já estrebucha agora no enxurdeiro da sua própria incompetência, somando derrotas atrás de derrotas para gozo dos ingleses que já tiveram doses de cheguem de pesporrência de Josés para suportarem uma imitação bacoca e barata. Pequenos crimes entre amigos, sim, porque eles fervilham todos na mesma caldeira de água podre até que cada um ficasse a saber a medida certa da sua cozedura. Guincham os macacos e ladram os cães. Não perceberam ainda, nem vão perceber nunca, que vivem num circo montado pelo Madaleno no qual anõezinhos de cócoras fazem diligentemente o seu trabalho porco. A culpa não é do que está hoje deitado na campa rasa, como a virtude também não foi daquele outro que se vai deitando na campa rasa de Holland Road. Todos eles são meros bonecos articulados, sem vontade nem cérebro. Uns são vendidos a bom preço, outros são deitados fora. E enquanto D. Palhaço se ri, os pobres pinóquios provocam pena."
Afonso de Melo, in O Benfica
Dizem jornais sérios, de prosa curta, que o truão ordenou o dispersar da matilha e não viesse ainda morder os tornozelos ao pobre infeliz que se debate numa tumba de pouca terra. Estavam todos tristes no Calhabé: vencidos e vencedores.
E como era fanfarrão esse moribundo de funeral pré-marcado, orgulhoso da sua cadeira, convencido de uma capacidade que não era a sua. Ah! Pequenos crimes entre amigos também vem a propósito. Porque o cão d'água alaranjado que cavalgou os espinhaços de proenças e benquerenças para ganhar taças sem valor e sem mérito, já estrebucha agora no enxurdeiro da sua própria incompetência, somando derrotas atrás de derrotas para gozo dos ingleses que já tiveram doses de cheguem de pesporrência de Josés para suportarem uma imitação bacoca e barata. Pequenos crimes entre amigos, sim, porque eles fervilham todos na mesma caldeira de água podre até que cada um ficasse a saber a medida certa da sua cozedura. Guincham os macacos e ladram os cães. Não perceberam ainda, nem vão perceber nunca, que vivem num circo montado pelo Madaleno no qual anõezinhos de cócoras fazem diligentemente o seu trabalho porco. A culpa não é do que está hoje deitado na campa rasa, como a virtude também não foi daquele outro que se vai deitando na campa rasa de Holland Road. Todos eles são meros bonecos articulados, sem vontade nem cérebro. Uns são vendidos a bom preço, outros são deitados fora. E enquanto D. Palhaço se ri, os pobres pinóquios provocam pena."
Afonso de Melo, in O Benfica
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