"Há umas semanas líamos por aí, em letras garrafais, que o brasileiro Elias estava a um passo de ser contratado pelo Benfica. No dia seguinte o negócio complicara-se, e ao terceiro dia o jogador estava já a caminho do Atlético de Madrid. Era então o argentino Enzo Perez a encher as primeiras páginas com nova novela em torno da sua alegada contratação. Até que também ele saiu de cena para dar lugar a Jucilei. Seguiu-se Kléber, e depois Fernandez, e assim sucessivamente (com Danny, Funes Mori e Nuno Coelho pelo meio), num rol interminável de noticias desprovidas de qualquer aparente fundamento. O mercado ainda nem sequer abriu as suas portas, pelo que, até ao final do próximo mês de Janeiro, muitos serão os nomes a adicionar a este ridículo desfile, sem que, na maioria dos casos, a SAD Benfiquista seja tida ou achada no 'negócio'.
Esta narrativa jornalística cansa. Eu, pessoalmente, já não acredito num único nome que surja nas páginas dos diários desportivos por estas alturas, e tenho a mais firme convicção de que, de entre todos os mencionados, poucos foram sequer objecto de ponderação por parte dos responsáveis do clube. Muitas vezes, pasma-se, é o próprio conteúdo das páginas interiores a desmentir as manchetes luminosas com que se pretende impressionar os mais incautos - anuncia-se, com pompa, o interesse do Benfica em fulano, para, na mesmíssima edição, algumas páginas depois se perceber que o negócio é, afinal, quase impossível de concretizar, ou que esse interesse até nem é, por exemplo, partilhado pelo treinador e/ou pela Direcção, transformando a fulgurante notícia em... nada, desrespeitando a verdade e os leitores. Todo o folclore noticioso não passa assim, creio, de encomendas de empresários no sentido de acicatar eventuais ofertas sobre os jogadores que têm em carteira, interesses esses que encontram na necessidade de vender papel o terreno fértil para a sua expansão.
Se fizermos o histórico dos nomes publicados na imprensa como possíveis reforços do Benfica no últimos dez anos, verificamos que mais de 90% nunca chegaram a vestir a camisola do clube, nem estiveram perto disso. Seria também curioso verificar o número de dias que cada um deles preencheu as páginas dos jornais, a forma como apareceram, como se mantiveram, como saíram, e, sobretudo, quem lá os pôs.
O procedimento é sempre igual: desperta-se o interesse como quem lança um segredo de salão, fazem-se duas ou três primeiras páginas com o nome do craque, começam então a noticiar-se as inevitáveis dificuldades na negociação (sejam prazos, formas de pagamento, ou outro clube que se interpôs), para, finalmente, quando a margem se estreita de forma irreversível, ser revelado o destino efectivo do futebolista - clube que, entretanto, assustado com toda a onda de especulação, acaba assim por pagar um pouco mais do que aquilo que pensava no início do romance.
Se tudo isto se tolerava há uns anos atrás, parece-me difícil que um grande número de adeptos ainda se entusiasme hoje com este tipo de burla (é esta palavra certa). Por isso não a entendo senão à luz da indisfarçavel crise pela qual passa a Imprensa escrita, que, entalada entre uma maior profissionalização das entidades objecto de cobertura noticiosa (com menor acessibilidade aos seus assuntos internos), e uma crescente onda de mecanismos de comentários, análise e até informação gratuita e online, tem revelado uma total incapacidade de adaptação aos novos tempos. E os grandes jornalistas, que também por lá existem, acabam eles próprios submersos pelo manto de mediocridade e de chico-espertismo que inunda todo o espaço onde habitam.
Como maior clube português, o Benfica é, obviamente, a principal vítima deste processo. Dispondo de mais adeptos, preenchendo a maior fatia da quota de mercado dos afectos desportivos, é do Benfica que todos procuram servir-se para alcançar os respectivos intentos - por vezes de forma sórdida e nojenta, como ainda recentemente sucedeu em redor de aspectos da vida privada do nosso director-desportivo. A grandeza do clube obriga-nos a conviver com esta nuvem de poeira à nossa volta. Mas é imprescindível que não nos deixemos abalar por ela.
Felizmente o Sport Lisboa e Benfica tem hoje mecanismos de comunicação suficientes para estabelecer uma ligação forte, directa e eficaz com os seus sócios e simpatizantes. Dispomos de um canal de televisão, das páginas deste Jornal, de uma Revista, e de um Site oficial. São estes os instrumentos que procuram informar os benfiquistas salvaguardando os interesses do Clube. A maioria dos restantes órgãos de comunicação social apenas se serve do Benfica para ganhar dinheiro, quer à custa da sua grandiosidade quer explorando, como abutres, os seus momentos menos bons. Não os levemos a sério, pois eles não merecem."
Luís Fialho, in O Benfica
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