"O meu artigo "por águas nunca dantes navegadas" não podia colher melhor aceitação do título desta crónica: vamos falar de águas claras que deixam transparecer uma visão e um projeto de excelência para a natação portuguesa, de acordo com as melhoras práticas a nível Europeu e Mundial.
Como não sou apologista da política de mão estendida e de colocar dinheiro em cima do problema, as boas práticas dizem-me que simplesmente não funciona, começo por citar António Silva, presidente da FPN - Federação Portuguesa de Natação e da LEN - Liga Europeia de Natação, abordando um tema que me é particularmente caro: o modelo de financiamento e desenvolvimento do desporto em Portugal. E o que diz António Silva? "Não obstante, ser necessário mais dinheiro a grande questão para a equidade e funcionalidade do sistema não se prende com mais verbas, mas sim com a necessidade urgente de se redefinirem quer os programas de atividade que dão suporte às atividades definidas, quer ainda as organizações que são alvo do sistema de financiamento para funções e competências, para as quais o estado e outras organizações existentes, podem assumir numa ótica de reorganização indispensável do sistema desportivo", e diz ainda "a irrelevância sociopolítica do desporto, não é de agora nem deste governo em específico é um problema de estado transversal aos governos constitucionais, e da generalidade dos partidos políticos, quando diz que "o desporto não é uma prioridade em Portugal" subscrevo e acrescento, devia estar no topo das prioridades da sociedade civil, pois é talvez o meio mais poderoso para criar um modelo de sociedade mais inclusivo mais solidário mais transparente nunca esquecendo que nas suas palavras "a vida biológica poderá até vir a ser prolongada..... mas a morte nunca será evitada, o desafio está precisamente na qualidade desta vida!".
Em Portugal continuo a tentar perceber quem e porquê no mundo desportivo, se tenha aventurado por águas nunca dantes navegadas. Nem de propósito encontrei uma Federação que navega literalmente uma onda de sucesso, uma modalidade que hoje é uma referência de alinhamento e boas práticas, à conversa com António Silva, atual presidente da Federação Portuguesa de Natação e presidente da LEN – Liga Europeia de Natação descobri também que é Professor Catedrático do Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). António José Rocha Martins da Silva, nasceu a 23 de outubro de 1969 em Moçambique, na Freguesia de Chimoio, em Vila Perry. Em jovem foi nadador em Viana do Castelo e Vila Real exercendo funções de treinador do FOCA – Clube Natação de Felgueiras. Foi ainda presidente da Associação de Treinadores de Natação, ocupando, no seu terceiro mandato, o cargo de presidente da Federação Portuguesa de Natação, que termina em 2024.
E de repente por águas nunca dantes navegadas, surgem na Natação Pura, Diogo Ribeiro, Miguel Nascimento, Gabriel Lopes, Diana Durães, Catarina Monteiro, Alexis Sanches, Tamila Holub, Angélica André, Tiago Campos, José Lopes, Francisco Santos e tantos outros…, mas não foi "de repente não mais que de repente" como dizia o poeta Vinicius de Moraes.
Ora vejamos, tudo começou em 2013 com a definição de uma estratégia e de um plano para a natação portuguesa 2014/24 que continha métricas mensuráveis, tais como aumentar significativamente a base nadadores filiados, assim como garantir a sustentabilidade financeira, autonomia e independência dos dinheiros públicos, que por definição são recursos sempre escassos.
4 grandes objetivos, macro impunham-se
1. Massificação da prática da Natação, com uma visão, ser a maior Federação do país com o exemplo de inclusão com o programa de 2014 "Portugal a nadar"
2. Redefinição do calendário competitivo, programas e atividades subjacentes
3. Competir ao mais alto nível
4. Sustentabilidade
E eu acrescentaria resultante desta animada conversa, sempre que me deparo com um projeto com evidentes semelhanças com o que se pratica nas Empresas, com a evidência das melhores práticas, inequivocamente surge uma palavra que tanto aprecio "ALINHAMENTO".
E em cima dessas boas práticas, quando uma pessoa alinha de acordo com uma determinada ideologia (de uma empresa, de um organismo, etc.), significa que está a abraçá-la deliberadamente e a conformar-se à mesma. Por outras palavras, essa pessoa faz tudo para integrar a mesma e juntar-se a todos os que partilham desta ideia.
O desporto não é diferente do modelo empresarial, aliás uma Federação, para além de ser uma empresa de vida, é uma Empresa no sentido literal em que o profissionalismo, os resultados, as boas práticas, os praticantes que são a base do edifício, o alinhamento de todos na mesma estratégia e a sustentabilidade financeira, estão intimamente ligados aos bons resultados.
Quando olho para a FPN vejo a máxima empresarial "que o que não se mede não existe" aplicada no seu expoente máximo, e António Silva acrescenta citando as palavras sábias de Fernando Pessoa "Quem não tem objetivos não sabe para onde ir". Hoje a Federação Portuguesa de Natação no conjunto das diversas modalidades, Natação Pura, Polo Aquático, Natação Artística, Natação adaptada, Masters e saltos, tem cerca de 120.000 praticantes Federados em todas as modalidades, e conta com um orçamento de 8 Milhões, dos quais 35% são verbas públicas, eram a 16.ª Federação são agora a primeira, e a 2.ª no estatuto de alto rendimento, tem ainda um programa de certificação ISO e acreditação de Técnicos monitorizado por uma entidade independente, do ponto de vista da equidade 53% dos atletas no feminino, e congrega uma estrutura de 27 pessoas.
Esta lógica obedece a uma filosofia implementada de reorganização das estruturas, redirecionamento do financiamento, modelo do financiamento, e mérito nos resultados, com uma perspetiva de visibilidade e reconhecimento, que gera financiamento.
No alto rendimento uma aposta forte em equipas multidisciplinares, com a vinda de um Técnico renomado na Natação, "Quero trabalhar com atletas que aceitem o desafio como eu aceitei. Eu larguei a minha casa, os meus amigos, a minha família". Este é o cartão de visita de Alberto Silva, mais conhecido como Albertinho, trabalhou com os medalhados olímpicos César Cielo e Thiago Pereira no Brasil e traz consigo uma equipa multidisciplinar rumo a Paris 2024. Existe também uma aposta no aproveitamento das estruturas existentes os CARs centros de alto rendimento neste caso o do Jamor, na ligação às UAARE's - Unidade de Apoio ao Alto Rendimento na Escola, e expoente máximo desta trilogia um atleta de altíssimo rendimento, o DIOGO RIBEIRO que nada atualmente entre a elite mundial por águas nunca dantes navegadas, que carrega já uma novidade na natação pura portuguesa com um título mundial Júnior Recorde do Mundo dos 50 m Mariposa, que foi a "cereja no topo do bolo" ao terminar a participação nos Campeonatos do Mundo Júnior de Natação, em Lima (Peru), com três Medalhas de Ouro (50 m mariposa, 100 m mariposa e os 50 m livres). Nunca se viu nada assim na natação nacional. Já tivemos, e temos, nadadores extremamente talentosos, mas nada comparado com este fenómeno, e a visibilidade que falávamos, atrai fãs, mais praticantes, e mais investimento.
Para Finalizar a receita parece repetir-se onde quer que vamos e encontramos casos de sucesso, uma visão a 10 ou mais anos, um plano estratégico, alinhamento e envolvimento de todos no processo, profissionalização, modelo e autonomia financeira, voz e independência, Simples? É preciso vontade, fazer e saber fazer, os americanos chamam-lhes os que fazem "Doer’s"; por isso, são polémicos e geram controvérsia, num país em que o mais cómodo é criticar os que fazem e esperar que nada se faça porque fazer é incómodo dá trabalho e temos que arricar e saber andar por águas nunca dantes navegadas, para estarmos no pelotão da frente!"
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