"O que mais me impressionou do 'segundo' Benfica em Guimarães foi o espírito da equipa com André Carrillo.
O Benfica impressionou, realmente, em Guimarães, onde venceu por duas vezes e pelo mesmo resultado no curto espaço de três dias. Impressionou sobretudo no jogo da Taça da Liga, pelo que jogou mas sobretudo por ter mudado oito jogadores de um jogo para o outro. Um Benfica que respira confiança, que mostra quantidade/qualidade no plantel - inegavelmente o melhor plantel da Liga portuguesa -, que mantém um enorme compromisso com a competição e revela um extraordinário espírito de equipa.
Fez o Benfica dois bons jogos num terreno particularmente difícil como é o do Vitória de Guimarães e conseguiu duas vitórias que acabam por ser bem mais do que apenas duas vitórias. Porque conseguiu, de novo, ganhar mais do que dois jogos.
Na noite da última terça-feira, então, o Benfica deixou o Dom Afonso Henriques com a alma verdadeiramente cheia de ânimo, porque os oito novos jogadores que entraram no onze mostraram tanta coisa que a equipa jogou ainda melhor do que no jogo do campeonato, três dias antes. Do onze da Liga, ficaram apenas Nélson Semedo e André Almeida nas laterais - talvez porque, nesta altura, não haverá mesmo como substitui-los... - Pizzi - pelo que representa na mecânica da equipa, e porque Pizzi parece mesmo aquele jogador que Rui Vitória não dispensa a não ser que seja mesmo obrigado.
Jogou um novo guarda-redes e uma nova dupla de centrais, jogou Samaris, por quem Rui Virtória nunca terá morrido de amores, e jogaram novos alas, um dos quais, Carrillo, condenado, pelos vistos, a continuar em exame, e jogou até nova dupla de jogadores no ataque, um dos quais capaz, de confesso, de me encher as medidas.
Mas de tudo o que o Benfica fez no carrossel que montou em Guimarães o que mais me impressionou, sublinho, até nem foi o fantástico modo como voltou a exibir-se Gonçalo Guedes, ou a surpreendente atitude e qualidade de Zivkovic, um jovem sérvio que chegou à Luz exactamente 30 anos depois de um outro Zivkovic, também sérvio, também vindo do Partizan, também cheio de talento, que apenas jogou, e não muito, em 86/87, e conseguiu festejar campeonato e taça.
Regresso a Guimarães, onde o que mais me impressionou, confesso e repito, foi ver praticamente toda a equipa cair em cima de André Carrillo, celebrando a assistência de peruano para o 2.º golo de Gonçalo Guedes, numa altura em que adeptos mas também comentadores e jornalistas muito justificadamente duvidam da verdadeira capacidade de Carrillo se impor no Benfica como solução e não como problema.
Para os devidos efeitos, o que os companheiros quiseram mostrar foi solidariedade, espírito, compromisso entre todos sem o qual nenhuma equipa consegue verdadeiramente ganhar títulos. A estrela da jogada tinha sido Gonçalo Guedes, não apenas porque foi ele que a desenhou nos últimos metros daquele contra-ataque mas, sobretudo, porque foi Guedes que a finalizou, matando um adversário de muitíssimo valor.
Mas nem o brilho intenso do jovem Gonçalo, que acabava de fazer o seu 2.º golo no jogo, nem a vantagem entretanto obtida, impediu a equipa de se concentrar praticamente toda em Carrillo, uma espécie de patinho feio no Benfica actual a quem os companheiros quiseram mostrar confiança e fé. O Benfica voltou, portanto, a ganhar mais do que o jogo. Ganhou ainda mais alma!
É nesse compromisso colectivo, nessa evidente manifestação de solidariedade, na alegria de jogar e na disponibilidade física para dar tudo e morrer pelo companheiro, como tanto valorizam os treinadores de futebol, seja na Premier League ou nos campeonatos regionais, que o Benfica assenta o essencial do seu comportamento como equipa tricampeã e, queira-se ou não, mais forte candidata ao título deste ano que lhe dará, se lá vier a conseguir chegar (o que não será fácl!!!), o primeiro tetra da história encarnada.
De todos os traços do perfil de Rui Vitória que porventura o levarão a ter inegáveis méritos em todo este processo, um parece-me hoje de peso significativo: a serenidade.
Faz-lhe bem a ele e parece fazer bem à equipa!
Não posso deixar, porém, de voltar ao talentoso mr. Guedes, o rapaz desajeitado cujo talento me enche realmente as medidas. Está naturalmente a crescer como jogador e vai melhorar muitos dos aspectos do jogo. Mas tem qualidades ímpares e, tal como o extraordinário Nélson Semedo - com quem muito jogou B -, já quase não faz nada por acaso. Insisto: como a maioria dos analistas, sou capaz de compreender, mas é muito injusto que o regresso de Jonas signifique a saída de Guedes.
Capaz de mudar de velocidade num abrir e fechar de olhos, Gonçalo tem um remate poderoso, é frio na finalização, é o atacante do Benfica com mais e melhor capacidade de pressionar na frente, joga para a equipa e não para ele, e tem a humildade de continuar com aquele sorriso do menino sempre que joga - e o prazer com que joga... - mesmo sabendo que nos próximos meses da Liga já não jogará tantas vezes como jogou na Liga até agora. Um craque!
(...)"
João Bonzinho, in A Bola
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