"Na época anterior, o Braga levara da Luz dois cabazes valentes (7-0 para o campeonato e 9-0 para a Taça de Portugal), mas desta vez revoltou-se e vencendo o Benfica por 4-1 no Minho abriu caminho para conquistar a sua única vitória no Jamor.
Vamos lá então a isto, que vinha prometido da semana anterior. Se se lembram, e é se se lembram, trouxe à memória destas páginas uma eliminatória da Taça de Portugal entre Benfica e Braga, disputada na época de 1964/65 e que, a duas mãos, valeu 4-1 e 9-0 para os 'encarnados'. Isto é: sem espinhas. Pois muito bem, na época seguinte, Benfica e Braga voltarem a defrontar-se para a Taça e as coisas já não correram da mesma forma, bem pelo contrário.
É assim mesmo. O Futebol é feito de vitórias e de derrotas (e já agora de empates...), não me cabe falar só dos momentos bons, nem me ficaria bem. Portanto, vamos aos factos.
Em 1964/65, o confronto entre as duas equipas valeu para as meias-finais da competição. Em 1965/66, eis que se encontraram nos quartos-de-final. O formato da prova alterara-se. Até à terceira eliminatória passou a haver apenas um jogo em vez de dois. E, assim sendo, o Benfica despachou a Oliveirense (2-0 C), o Alhandra (4-1 F) e o Portimonense (2-2 F; 5-1 C), enquanto o Braga resolveu a sua vida à custa da Ovarense (5-2 C), do Atlético (3-2 C) e do Lusitânia dos Açores (3-0 F; 3-2 C). Não se podia dizer que não houvesse claro favoritismo do Benfica, que até era campeão nacional. Só que...
No dia 10 de Abril, no Estádio 28 de Maio (que assim se chamava o mais tarde rebaptizado 1.º de Maio), um inspirado Braga comandado por um ainda mais inspirado Canário, arrasou o Benfica. Consta que a sorte do jogo também tombou para o lado dos minhotos, já que Nelson e José Augusto viram remates seus devolvidos pela trave. Mas manda dizer a verdade dos factos que depois de ter aberto o marcador por Nelson aos 34 minutos, o campeão nacional foi completamente dominado por um adversário que provocou a muitos jogadores benfiquistas um estado de nervos tão alterado que Cavém chegou a ser detido no final do encontro e levado para a esquadra por se ter envolvido em chatices com alguns espectadores. A coisa ficou por uma mera repreensão. No que a Cavém diz respeito, porque em relação ao Benfica ficou por uma derrota feia como poucas.
A segunda parte foi um caos. Aos 53 minutos, Adão empatou. Depois, fez o 2-1 aos 61. O 3-1 foi obra de Bino (63m). E o 4-1 (74m) teve a assinatura de Perrichon, um argentino que a malta do norte chamava por pirraça de sotaque Perrichão. Ficaria para sempre ligado à história do clube por ter marcado igualmente o golo solitário que valeu ao Braga a vitória nessa edição da Taça de Portugal, na final frente ao Vitória de Setúbal que na época anterior tinha também chegado ao jogo do Jamor e vencido o Benfica. Com Luciano, Estevão e Adão a acolitarem o endiabrado Canário,os bracarenses deixavam os lisboetas em muito mais lençóis, embora ainda houvesse o jogo da Luz para completar o acerto contabilístico.
Nem Eusébio chegou...
Pois, na semana seguinte, eis que vai o Braga a Lisboa para a segunda mão desses quartos-de-final tão surpreendentes até ao momento. Até certo ponto assistia-se à revolta dos arsenalistas do Minho que na época anterior tinham levado do Estádio da Luz dois cabazes valentes - 7-0 para o campeonato e 9-0 para a Taça. Irra! Que era dose cavalar!
E a revolta deu-se mesmo porque o Benfica não foi capaz de dar a volta. Havia, pelo que se lê na imprensa da altura, uma grande confiança do lado encarnado. Todos pareciam convencidos de que era mais do que possível dobrar o cabo dos trabalhos daqueles 1-4 da ida.
Não ficou longe, mas o golo inicial de Adão (21m) tornou logo a tarefa mais complicada. Eusébio, que não jogara em Braga, ainda foi fazendo das suas. Marcou dois golos (40 e 53m, este de grande penalidade) e arrastou a equipa consigo para o assalto à fortaleza bracarense. Com tanto tempo para jogar, embora desfalcado de Jacinto, que fora expulso, os benfiquistas lançaram-se na busca incessante dos golos. Torres fez o 3-1 a vinte minutos do final, e o público acreditou mais do que nunca. Armando, Canário, José Maria, Estevão e Perrichon deram à equipa uma tranquilidade fundamental que os comandados de Belá Guttmann não foram capazes de quebrar. Os esforços de Torres e Simões para acompanharem as explosões de Eusébio caíram em saco roto. A estreia de Loio, que jogara pelo Flamengo antes de vir para o Benfica, e que merecerá um dia uma destas linhas que por aqui rabisco, foi frustrante. O Braga seguia para as meias-finais, e o Benfica que fora um mês antes eliminado de forma estrondosa pelo Manchester United (1-5 na Luz) da Taça dos Campeões Europeus, via-se arredado de mais uma competição. A maldição de Guttmann caía, pelos vistos, sobre o próprio.
Não contentes com a proeza de eliminar o Benfica, os minhotos viriam também a deixar o Sporting pelo caminho (1-1 e 1-1 e 1-0 no desempate) até ao Jamor e à única Taça de Portugal conquistada na sua história. Quanto aos confrontos com o Benfica, não tarda está aí outro à porta. E quem te avisa..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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