"Frente à equipa com a melhor posse de bola não será mal pensado usar a mesma moeda. Com Vitinha, Bernardo e Bruno isso é possível
Contou Jorge Valdano que Di Stéfano começava logo a ganhar os jogos ainda antes do apito inicial quando no momento da moeda ao ar se dirigia ao capitão da equipa contrária e lhe dizia apenas: 'É bom que tenham outra bola porque esta vai ser para nós'. Era uma forma de dizer ao que vinham e criar um desconforto psicológico no oponente. Recordei-me dessa tática na final da Champions quando Vitinha, seguramente instruído por Luis Enrique, atirou a bola de saída diretamente para fora, no meio-campo adversário, como no râguebi, com isso fazendo subir todas as linhas do PSG e iniciar, nos primeiros, segundos, a pressão sobre o adversário. A mensagem implícita naquele gesto foi clara: nós viemos para mandar no jogo.
O que se passou nos 90 minutos seguintes entrou diretamente para os livros de história. Houve concerto de violino mas só possível por causa de um maestro português na linha de Rui Costa ou Deco, mas com uma característica que define o centrocampista moderno: uma imensa intensidade de jogo, tanto na reação canina à perda de bola como na oferta de linhas de passe com corridas curtas mas cadenciadas no ritmo e espaço certos.
Admito que já vi vezes sem conta o terceiro golo dos parisienses diante do Inter, o lance que expõe a dimensão de Vitinha em toda a sua amplitude: o jogador que começa a jogada lá atrás, toca e volta a receber, que corre mais com os outros porque sabe para onde correr (pensa à frente) e deixa Doué na cara do golo. O que os antigos números 10 faziam com passes longos, como se fossem quarterbacks do futebol americano, Vitinha faz por etapas. Não porque não saiba lançar bolas longas, mas porque o futebol de elite é hoje muito menos vertical.
Aqueles que mais ganham são os que mais fazem a bola girar, com paciência, inteligência e talento. Não por acaso, assistiu-se a nove golos no Espanha-França da Liga das Nações e nenhuma das equipas jogou de início com ponta de lança fixo (só mais tarde entraram Samu e Kolo Muani). Venceu aquela que melhor domina a posse, a que melhor pensa o jogo e aquela que tem o melhor jogador do mundo da atualidade (Lamine Yamal). Por vezes parece não haver antídoto para vencer La Roja, mas talvez não seja mal pensado usar a mesma moeda, não só porque é a única forma de deixar o campeão europeu desconfortável mas porque esse também é o ADN de Portugal. Andou adormecido, mas Vitinha abriga a resgatá-lo. Tal como Bernardo e Bruno. Tragam duas bolas porque este promete ser o jogo do ano."

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