"Não sei se leram a entrevista de Ruben Amorim ao ‘Expresso’ deste fim-de-semana. Se não o fizeram, nunca é tarde: uma conversa inteligente, relatos de bons episódios sobre futebol e uma explicação exacta do motivo para o panorama mediático desportivo colocar tão poucas vezes os principais protagonistas no centro: "só se pode dizer aquilo que os clubes querem. Hoje em dia, se dizes uma palavra mal, tens logo um problema, e os jogadores tentam fugir disso. Como só podem dizer três frases numa entrevista, ficam muito limitados, e as pessoas não veem o outro lado do jogador".
Enquanto ninguém vê o outro lado do jogador, todos os dias somos inundados com notícias do outro lado do futebol. Um lado bem funesto. Para além da omnipresença dessa figura insólita que é o ‘director de comunicação’ (haverá mais algum país onde se dê tanto protagonismo a estas personagens?), na comunicação social desportiva, temos líderes de claques mais ou menos organizadas, posts de facebook de pós-dirigentes, debates intermináveis sobre arbitragens assentes em repetições ad infinitum, trocas de acusações entre dirigentes, sempre condimentadas por ameaças de processos judiciais. Lê-se, vê-se e ouve-se e fica a dúvida: como é possível continuar a gostar de futebol?
É uma evidência que é preciso colocar cobro a este desvario que tomou conta do futebol português. Se as instâncias regulatórias não o fazem e se os clubes continuam empenhados em destruir o seu próprio negócio, é altura de a comunicação social fazer, ela própria, alguma coisa. Se nada mais, por instinto de autopreservação.
Faz, por exemplo, algum sentido que personagens marginais vejam os seus grunhidos, vindos do submundo das redes sociais, amplificados e reproduzidos em notícias? Não devemos ser todos preservados e não conhecer os líderes registados das claques legalizadas? É que se a comunicação social tradicional se transformar num prolongamento das redes socais soçobrará às próprias redes sociais.
Bem sei que o ciclo noticioso de 24 horas e o horror ao vazio são muito exigentes – particularmente nas paragens para jogos particulares das selecções. Mas o que precisamos na comunicação social é de menos directores de comunicação, menos anatomias de arbitragens, menos protagonismo aos dirigentes e mais voz aos protagonistas. Se os media derem o seu contributo, o ar em redor do futebol tornar-se-á mais respirável.
Sugestões? Mais espaço para a análise tática, como as do blog Lateral Esquerdo e do podcast Linha Lateral; mais interpretação estatística, à imagem do GoalPoint.pt; mais entrevistas como as do Rúben Amorim ao ‘Expresso’, do Jonas à RTP ou do Battaglia ao Record (para ficarmos pelos últimos dias) e mais episódios nostálgicos, como aqueles que o Carlos Manuel e o Miguel Prates nos trazem, todas as semanas, no extraordinário ‘Bar da SportTV’."
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