"As mortes de Eusébio e de Coluna, surgidas neste cinzento início de ano de 2014, vieram reavivar a noção de uma notável realidade histórica de um Portugal de coração grande, do tamanho do mundo. Um Portugal que se rói por dentro nos defeitos mais pequenos e que raramente se estimula nas grandes virtudes.
Disso mesmo me falava esta manhã, Jorge Olímpio Bento, meu particular amigo e director da Faculdade de Desporto do Porto, ao fazer-se chegar-me um texto que quero partilhar com os leitores da A BOLA. Dizia assim:
«Creio que a única vez que estive com Mário Coluna foi nos I Jogos da Lusofonia, realizados em Macau, há alguns anos. Lembro-me bem de um momento altamente simbólico. Estávamos muito próximos um do outro, na tribuna de honra do estádio, aquando da cerimónia de abertura. A bandeira portuguesa subiu no mastro e o nosso Hino Nacional foi tocado. Mário Coluna levantou-se como toda a gente, mas fez algo mais: cantou A Portuguesa. Alguém da comitiva moçambicana lhe dirigiu um qualquer reparo. Coluna reagiu em voz bem audível, dizendo que Portugal era também a sua Pátria e jamais esqueceria a honra de ter sido capitão da Selecção portuguesa.
Este pormenor merece ser bem reflectido, até porque somos grandes nos feitos e pequenos nos defeitos. Qual seria o país europeu, a não ser Portugal, que, nos anos 60 do século passado, teria um cidadão negro como capitão de uma Selecção Nacional? Fica aqui a minha homenagem a Mário Coluna e para a disposição lusitana em incorporar o diferente e estranho».
Um editorial deve sempre obedecer a uma posição institucional da direcção do jornal. Se reproduzo, aqui, este texto, é porque ele representa, em rigor, o que me vai na alma."
Vítor Serpa, in A Bola
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